No decorrer do tempo... Meu pai, depois
daquele tiro, não voltou a ser o mesmo nos negócios, o retiro já não produzia o
suficiente, mesmo assim eles continuavam lá, era o que estavam acostumados a
fazer, administrar as lavouras, o gado que agora eram só vacas leiteiras, o
leite seria tirado pela manhã e levado a cidade para ser vendido de porta em
porta.
Havia só um peão para fazer esses
serviços, minha mãe ajudava no que fosse possível, criava galinhas, cuidava da
horta, aos finais da semana ia para a cidade, papai comprou uma rural, carro
velho, mas seria útil para ficar de lá pra cá... Tinha um, porém, há dias tinha
saído uma ninhada de pintinhos e a galinha mãe a raposa pegou, era preciso
cuidar dos pintinhos, fazer o quê! Levar todas às vezes os bichinhos para cidade...
Assim ela fazia, pegava uma capanga, enchia de pintos, umas espigas de milho, na
cidade já tinha o local para quebrar o milho, estava também criando um papagaio
filhote, era preciso colocar comida no bico! Ainda não tinha as penas era necessário,
cobri-lo, ele tremia de frio, Minha mãe levava toda aquela tralha... No passar
do tempo os bichinhos foram crescendo, e aprendendo o momento de ir e vir, finais
de semanas as tardes juntavam perto da rural para entrar e viajar, e nas
segundas feiras pelas manhãs, ajuntava na porta da rua para entrar na rural, o papagaio,
só ouvir, "vamos Maria” ele vinha correndo para perto, meu pai pegava e
colocava na cabeceira do banco, ele amortecia os baques abrindo as asas, foram
crescendo assim até virarem frangos, depois ninguém queria que matassem pra
comer todos tinham nome e atendiam e cada um atendia pelo seu nome...
Enquanto isto, em Uberlândia, Soares
continuava empregado eu costurando os filhos estudando, Sandra já se preparando
para o vestibular, Selma trabalhando e estudando, Peter também, se preparando
para apresentar no quartel para fazer o exercito. Soares cobria todas as cotas de
vendas era mesmo bom vendedor, tirava todos os prêmios, ele comprava lotes em
lugares privilegiadas com os prêmios, comprou carro novo, agora o carro do ano.
Se era exigente, agora se tornou
mais! Começou a impor muita autoridade até mesmo com os diretores, achava que
era insubstituível, podia fazer e acontecer que ninguém iria fazer nada, pois
cobria todas as cotas e ganhava todos os prêmios. Mas tem pessoas que não sabem
ter poder, pisa em outras se sente importante! Por isso disse lá no começo, foi
a pior coisa que aconteceu! O orgulho destrói... O ser humano não anda... A pessoa
mais poderosa do mundo foi quem teve mais humildade, então, digo sempre, pode
não ser, mas creio que sim a placa de gerente destrói... Destrói porque, nunca
mais ela quer ser subalterna a alguém! Não aceita outro trabalho que seja
inferior... Fica aquela busca constante... Enquanto não encontra vai vendendo o
que tem pelo preço que oferecerem, tem um status para manter; um padrão de
vida... Esquece que o tempo passa rápido.
Isso tudo é para dizer que o
Soares foi mandado embora da firma, Não por desonestidade isso tenho certeza, foi
por arrogância. Assim que recebeu os acertos, ficou pensando em abrir um
próprio negócio. Ele tinha amizade com os donos de uma transportadora, que
assim que ficou sabendo o convidou para ser supervisor da empresa, aceitou, por
algum tempo.
Viajava como gostava reuniões em Goiânia,
Brasília, Rio de Janeiro. Ficava muitos dias fora. Selma e Sandra já namorando,
e fazendo cursinhos, eu na maquina de costura... Como corria atrás das coisas, Soares
não se preocupava com a casa, o que estaria faltando, o que as crianças precisavam
isso se tornou problema meu, só sabia impor como se fossemos funcionários dele,
só conversava para chamar atenção, somente ele sabia tudo, pelo jeito queria se
tornar um deus. Andar bonito era com ele mesmo, roupas bem limpas sapatos engraxados,
cabelos bem penteados. Eu trabalhava no meu limite, às vezes quando pedia algum
dinheiro para pagar alguma coisa sempre me respondia que não podia dar.
Um dia saindo de viagem pedi, me
deu vinte cruzeiros e falou se vire... Foi a ultima vez que pedi, veio logo em
minha mente o ensinamento de minha mãe, “você nasceu só, tem que se virar só...”
O novo emprego não durou, achava que era muito rendoso, e ele ganhava pouco em
vista dos lucros que tinham, então pediu demissão, disse que ia trabalhar por
conta própria, já tinha aprendido como funcionava uma transportadora.
Tinha um pouco de dinheiro do
acerto, alugou galpão, financiou caminhão algumas Kombi, mandou pintar com o
nome da empresa com desenhos e tudo mais... Fez toda uma estrutura, uniforme
para os empregados, estava confiante, parecia que não poderia dar errado. A... Ia
me esquecendo... Convidou um sócio! Ai sim estava completo.
Agora era dono seria diferente, mandaria
do jeito dele,funcionário iria piá fino como dizem,ficava no escritório, todo arrumado,
revolver na gaveta, e pentes com balas, aqui ninguém se atreve... Mas este tipo
de coisa não pode existir só em uma mente doente,mas quem ousa palpitar?Depois
os negócios não caminham, porque será?As primeiras viagens tudo bem, depois
começou o fracasso, caminhões tombavam,peruas estragavam ,era só oficinas mais oficinas,
prestações vencendo, o dinheiro não dava, empregados machucando, mercadorias
estragando no deposito. ele não conseguia contornar a situação,passou a parte
dele para o sócio ficando as dividas,que estava em nome do
Soares.Desorientou,começou a vender tudo que tinha para pagar as contas,vendia
por qualquer preço não podia sujar o nome.Os terrenos na avenida principal de Uberlândia
foram todos vendidos,ficando ainda uma divida de quarenta mil cruzeiros,que
precisei pagar,com costuras,dias e noites trabalhei,ele
desempregado,aflito,preocupado e desinquieto com os problemas.Por fim pagamos a
ultima duplicata...Graças as orações,e muito esforço,restou somente um terreno
encostado no parque Sabiá... Falarei dele adiante
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