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quinta-feira, 5 de julho de 2012

A transportadora



No decorrer do tempo... Meu pai, depois daquele tiro, não voltou a ser o mesmo nos negócios, o retiro já não produzia o suficiente, mesmo assim eles continuavam lá, era o que estavam acostumados a fazer, administrar as lavouras, o gado que agora eram só vacas leiteiras, o leite seria tirado pela manhã e levado a cidade para ser vendido de porta em porta.
Havia só um peão para fazer esses serviços, minha mãe ajudava no que fosse possível, criava galinhas, cuidava da horta, aos finais da semana ia para a cidade, papai comprou uma rural, carro velho, mas seria útil para ficar de lá pra cá... Tinha um, porém, há dias tinha saído uma ninhada de pintinhos e a galinha mãe a raposa pegou, era preciso cuidar dos pintinhos, fazer o quê! Levar todas às vezes os bichinhos para cidade... Assim ela fazia, pegava uma capanga, enchia de pintos, umas espigas de milho, na cidade já tinha o local para quebrar o milho, estava também criando um papagaio filhote, era preciso colocar comida no bico! Ainda não tinha as penas era necessário, cobri-lo, ele tremia de frio, Minha mãe levava toda aquela tralha... No passar do tempo os bichinhos foram crescendo, e aprendendo o momento de ir e vir, finais de semanas as tardes juntavam perto da rural para entrar e viajar, e nas segundas feiras pelas manhãs, ajuntava na porta da rua para entrar na rural, o papagaio, só ouvir, "vamos Maria” ele vinha correndo para perto, meu pai pegava e colocava na cabeceira do banco, ele amortecia os baques abrindo as asas, foram crescendo assim até virarem frangos, depois ninguém queria que matassem pra comer todos tinham nome e atendiam e cada um atendia pelo seu nome...
Enquanto isto, em Uberlândia, Soares continuava empregado eu costurando os filhos estudando, Sandra já se preparando para o vestibular, Selma trabalhando e estudando, Peter também, se preparando para apresentar no quartel para fazer o exercito. Soares cobria todas as cotas de vendas era mesmo bom vendedor, tirava todos os prêmios, ele comprava lotes em lugares privilegiadas com os prêmios, comprou carro novo, agora o carro do ano.
Se era exigente, agora se tornou mais! Começou a impor muita autoridade até mesmo com os diretores, achava que era insubstituível, podia fazer e acontecer que ninguém iria fazer nada, pois cobria todas as cotas e ganhava todos os prêmios. Mas tem pessoas que não sabem ter poder, pisa em outras se sente importante! Por isso disse lá no começo, foi a pior coisa que aconteceu! O orgulho destrói... O ser humano não anda... A pessoa mais poderosa do mundo foi quem teve mais humildade, então, digo sempre, pode não ser, mas creio que sim a placa de gerente destrói... Destrói porque, nunca mais ela quer ser subalterna a alguém! Não aceita outro trabalho que seja inferior... Fica aquela busca constante... Enquanto não encontra vai vendendo o que tem pelo preço que oferecerem, tem um status para manter; um padrão de vida... Esquece que o tempo passa rápido.
Isso tudo é para dizer que o Soares foi mandado embora da firma, Não por desonestidade isso tenho certeza, foi por arrogância. Assim que recebeu os acertos, ficou pensando em abrir um próprio negócio. Ele tinha amizade com os donos de uma transportadora, que assim que ficou sabendo o convidou para ser supervisor da empresa, aceitou, por algum tempo.
Viajava como gostava reuniões em Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro. Ficava muitos dias fora. Selma e Sandra já namorando, e fazendo cursinhos, eu na maquina de costura... Como corria atrás das coisas, Soares não se preocupava com a casa, o que estaria faltando, o que as crianças precisavam isso se tornou problema meu, só sabia impor como se fossemos funcionários dele, só conversava para chamar atenção, somente ele sabia tudo, pelo jeito queria se tornar um deus. Andar bonito era com ele mesmo, roupas bem limpas sapatos engraxados, cabelos bem penteados. Eu trabalhava no meu limite, às vezes quando pedia algum dinheiro para pagar alguma coisa sempre me respondia que não podia dar.
Um dia saindo de viagem pedi, me deu vinte cruzeiros e falou se vire... Foi a ultima vez que pedi, veio logo em minha mente o ensinamento de minha mãe, “você nasceu só, tem que se virar só...” O novo emprego não durou, achava que era muito rendoso, e ele ganhava pouco em vista dos lucros que tinham, então pediu demissão, disse que ia trabalhar por conta própria, já tinha aprendido como funcionava uma transportadora.
Tinha um pouco de dinheiro do acerto, alugou galpão, financiou caminhão algumas Kombi, mandou pintar com o nome da empresa com desenhos e tudo mais... Fez toda uma estrutura, uniforme para os empregados, estava confiante, parecia que não poderia dar errado. A... Ia me esquecendo... Convidou um sócio! Ai sim estava completo.
Agora era dono seria diferente, mandaria do jeito dele,funcionário iria piá fino como dizem,ficava no escritório, todo arrumado, revolver na gaveta, e pentes com balas, aqui ninguém se atreve... Mas este tipo de coisa não pode existir só em uma mente doente,mas quem ousa palpitar?Depois os negócios não caminham, porque será?As primeiras viagens tudo bem, depois começou o fracasso, caminhões tombavam,peruas estragavam ,era só oficinas mais oficinas, prestações vencendo, o dinheiro não dava, empregados machucando, mercadorias estragando no deposito. ele não conseguia contornar a situação,passou a parte dele para o sócio ficando as dividas,que estava em nome do Soares.Desorientou,começou a vender tudo que tinha para pagar as contas,vendia por qualquer preço não podia sujar o nome.Os terrenos na avenida principal de Uberlândia foram todos vendidos,ficando ainda uma divida de quarenta mil cruzeiros,que precisei pagar,com costuras,dias e noites trabalhei,ele desempregado,aflito,preocupado e desinquieto com os problemas.Por fim pagamos a ultima duplicata...Graças as orações,e muito esforço,restou somente um terreno encostado no parque Sabiá... Falarei dele adiante


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