Visto estar tudo sobre controle, achei por bem fazer um curso de alta costura, era o que sempre gostei. As três primeiras crianças, já estavam na escola, as duas menores eu tinha quem cuidasse, então tinha tempo suficiente para me dedicar às costuras.
Soares já não implicava, tínhamos boas amizades,
as crianças brincavam na rua, nosso quintal era grande, podiam juntar os
colegas e brincarem sem limites, eu fazia as roupas delas e as das bonecas
iguais, as outras mães se encantavam com as meninas, logo pediam para costurar também
para as filhas, digo filhas porque nunca levei jeito de fazer roupas para
homem, assim começavam as propagandas.
Agora, já formava freguesias e foi aumentando
com o tempo. Já era hora de arranjar ajudantes, o serviço tornou-se muito,
precisei de mais maquinas, a casa era pequena, precisei fazer modificações, passar
a cozinha para um barracão que havia ao fundo e derrubar a parede que ligava da
sala a cozinha, e trabalhava ali. O espaço era desajeitado, mas o ponto era
ótimo, central, fácil estacionamento, aviamentos por perto, até as meninas
podiam ir comprar ainda pequenas, podiam ir aos bancos fazer qualquer pagamento,
vejam como era tranquila a cidade... Tenho saudades disto, carros ficavam nas
ruas durante a noite, o que faziam!... Escreviam no embaçado do sereno... A infância
para os filhos não podia ser melhor, o pai que era severo estava sempre
viajando ou fora de casa todo tempo, isso já era um sossego, finais de semana iam
para o clube, passavam o dia com as amigas e colegas, participavam de festas de
escola, e aniversários, mas sempre com a recomendação, “nove horas em casa...” “Não
aceitem refrigerante se não ver abrindo...” Às vezes nem tinham cantado os
parabéns ele já estava ali para busca-las e não aceitava esperar!... Isso não
era com ele... Sandra e Selma já mocinhas, estavam começando a despertar os
namorinhos, seria escondido, o pai nem podia saber senão seria fim na certa... Eu
deixava ali junto comigo, via tudo que se passava... Pura inocência era lindo
ver o desenrolar da vida...
Como vão se tornando adultos! E tomando o
comando da própria vida, as atitudes de cada um, o desenvolvimento da pessoa, a
personalidade... Que beleza tudo isso... Enquanto as duas primeiras estavam
preocupadas em estudar e namorar, os outros três só queriam saber de brincar na
rua, era carrinho de rolimã no passeio incomodando os vizinhos, a rua é
descida, então nada mais que um convite para as brincadeiras,a maior partes dos
vizinhos também tinham crianças que participavam das mesmas estripulias, então
as reclamações não faziam muito sentido.
Quando chovia então... A meninada saia da toca,
só se via crianças descendo nas enxurradas de sombrinhas, voltavam todas
molhadas, umas ficavam de castigo, as minhas não, tinha direito a tudo... Eu
queria suprir as arrogâncias do pai. Peter, como irmão bom para ter ideias, inventavam
o que iam fazer, na rua não dava para soltar papagaios, tinham fios elétricos, o
jeito era subir em cima da casa e equilibrar ali... Empinando o papagaio
colorido que ele mesmo fazia, quando dava a hora do pai chegar desciam, quando
o pai viajava... Áh... Que delicia!
Era só farra, as vizinhas da frente, filhas da
Marlene, aquela que me levou ao hospital, no dia do parto da Kelly, ela também
tinha três filhos, da idade dos meus, brincavam juntos.
O Sr Dirceu, esposo da Marlene, trazia da
fazenda muitas frutas e verduras, o que faziam as crianças? Pegavam lonas e
faziam barracas, com caixotes montavam uma feira, e colocava o que Sr Dirceu trazia,
e ficavam ali oferecendo para quem passasse por perto. Um dia Sr Dirceu chegou
da rua e pegou no flagra as vendas, não deu bronca, mandou por preço e pagou a
feira!
Ele não imaginava a alegria que causou, repartiram
o dinheiro, e ficaram esperando a próxima vinda da fazenda. Foram ótimos
vizinhos, até que voltaram para sua cidade Santa Helena em Goiás, depois disto,
poucas vezes nos encontramos, fiquei sabendo que todos se casaram, e nos perdemos
no tempo...