Bahia terra boa, escrevendo agora,
me coloco ali, sinto cheiro do acarajé, do sarapatel, do cuscuz de tapioca, e
tudo mais de delicias daquele lugar. Apesar, da falta que sentia dos pais e
irmãos estava feliz, fui conhecendo também outras pessoas de BH que estavam lá
pelo mesmo motivo. Agora, aos domingos depois da praia nos reuníamos sempre em
casa de um conterrâneo para o churrasco a mineira... Não tínhamos carro, alguém
sempre nos dava carona.
Então, Sebastião terminou o período
de adaptação, agora a empresa achou por bem autorizar para ele comprar um
carro, era necessário, fazia muitas visitas aos médicos, viagens, o escritório
ficava na cidade baixa, distante de nossa casa. Ele não tinha carteira de habilitação,
precisava tirar arranjar alguém para ensinar, mas primeiro comprar o carro, estava
mesmo muito ansioso, o que comprar? Pensou muito, e chegou à conclusão de que
um jipe seria a solução, poderia viajar andar em estrada de terra, era o ideal.
Foi atrás, depois de procurar
bastante, achou um no jeito, fez o negócio, “agora sim estou realizado...” Chamou
o homem que ia ensina-lo, todos os dias chegava cedo, Sebastião já pronto para
sair, desciam juntos a ladeira do Inhão o homem dirigindo e ele olhando, prestando
atenção, estava faltando coragem para enfrentar o transito.
Depois de alguns dias saíram para
um lugar fora da cidade para treinar, ficaram o dia todo, quando chegou com o
jipe dirigido por ele, foi uma alegria só. Em frente ao prédio que moravamos na
praça, havia um posto, como não tinhamos direito a garagem, deixava o jipe ali.
Comprou uma corrente bem grossa, era
sempre exagerado em tudo que fazia, para amarrar no poste o jipe, evitando ser
roubado. Assim era todos os dias aquela armação, ainda pagava o vigia do posto
para tomar conta. Sábado a tarde convidava os amigos para dar voltas com ele
dirigindo... Saia também, com a família pela avenida beira mar, levava para o
farol da barra para ver a paisagem, às vezes chegava até Piatã, Pituba e outras
praias mais distantes. Todo sorridente, dizia olhando o velocímetro: "Fizinha
olha quarenta! Tá vendo? Esse jipe é bom mesmo se pisar fundo dá até sessenta!”.
Aos domingos, levantava bem cedo
para desmontar tal de carburador, e lavar com gasolina, dizia que era pra tirar
as sujeiras da mesma. Até que um dia... Vendo toda aquela dedicação, resolveram
passar um susto no Soares... Havia deixado para por a corrente mais tarde,
porque iríamos ao cinema. Descemos as escadas rápido, porque a preciosidade não
estava presa ao poste... Adivinhem, roubaram o jipe! Ficou louco, foi a policia
o mais ligeiro possível... Contratou detetive!
Pegou um taxi para andar com ele,
foi à noite inteira de buscas inúteis, pela manhã já esgotado da procura, alguém
bateu na porta e perguntou se já tinham encontrado, porque logo abaixo na
prainha tinha um parecido, correu para reconhecer, era mesmo o dito cujo. Bem
em frente ao nariz, não procuraram por perto, a ansiedade era muita! Vaidoso, quis
colocar um nome no jipe, passou a se chamar Electra 2, em homenagem ao avião
que fazia a linha de Salvador a BH.
Quase dois anos fazia que não víamos
nosso povo. Durante esse tempo, passou o casamento da Nicinha com o Hélio e do
Armando com Áurea, estávamos muito longe.
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