Total de visualizações de página

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O fusca vermelho



Peter, menino ainda, foi trabalhar de cobrador em uma corretora, esperto na sua bicicleta, atravessava a rua sem olhar, achava isso o máximo, as pessoas viam e me falavam,
Quando chegava em casa eu zangava com ele, mas não adiantava, nem sei como escapou só Deus para proteger. Agora Sandra, já fazia cursinho para prestar vestibular, Selma fazendo segundo grau, Peter, Kenia e Kelly ainda no Grupo Bueno Brandão na Praça Tubal Vilela, ainda hoje é, lá na Praça do Agostinho!
Kenia sempre muito sensível, a Kelly tomava todas suas dores e protegia, mas também sabia mexer com os sentimentos dela e aprontava... Um dia uma colega fez alguma coisa com Kenia, na saída da aula Kelly foi tomar satisfação, ela era pequena metida a valente, falou alguma coisa e a menina veio querendo brigar, ai já viram... Juntou uma porção de alunos, a Kelly pegou a pasta e começou a rodar e foi juntando, juntando... Peter trabalhava na sobre loja de um prédio na esquina, de longe viu o ajuntamento, depressa reconheceu a Kelly, foi la e a levou para casa.
Era sempre assim, precisava ficar de olho nela... Um dia ela fez coisa errada, zanguei, ficou revoltada e falou "vou embora dessa casa“ entrou e foi arrumar as coisas para ir, falei que tudo que tinha foi eu que tinha dado e que ela não teria nada para levar.” Então saiu de short e havaianas virou a esquina e assentou no portão da próxima casa, deixei que ficasse ali até quando quisesse, pedi à moça que trabalhava conosco para ficar observando ao longe sem ela saber, ficou, Ficou... quando deu vontade de fazer xixi saiu correndo, chegou em casa, fiz que não vi, entrou para o banheiro, saiu sem graça e nunca mais falou em sair de casa.
Na esquina próxima a nossa casa estavam construindo um prédio de muitos andares, fazendo as perfurações, era caminho das duas ao vir da escola, os buracos eram muito profundos, sempre que passavam perto a Kelly ameaçava se jogar nos buracos para ver a Kenia ficar apavorada e pedir “pelo amor de Deus não faça isso!" “não sei quem essa menina puxou!”.
 Em Uberlândia, foi ficando difícil ir a Curvelo, já éramos muitos, o fusca ficava muito apertado durante a longa viagem, geralmente precisávamos parar para dormir, costumávamos gastar dezessete horas, Soares ficava inventando caminhos, estradas de terra, e a velocidade que já falei, não tinha quem aguentasse... Era assim, na frente Soares dirigindo, eu ao lado com a Kenia em uma cadeirinha entre nossos bancos, ainda usando fraldas de pano, e com disenteria, nos meus braços Kelly bem gordinha e desinquieta, entre minhas pernas na frente ia uma lata de dezoito litros com, bananas, laranjas descascadas, sanduíches, águas, leite para as mamadeiras da Kelly.
No banco de trás os três maiores, brigando, cada um queria mais espaço, a Sandra enjoava e vomitava, ficava muito pálida, passava muito mal nas viagens. Parávamos nos postos para abastecer e comer algumas coisas, Soares deixava gorjetas para os garçons, antes que os garçons pegassem, os meninos pegavam depois no carro iam dividir a grana e tinha brigas nunca chegavam a um acordo, o pai virava fera, levava a mão para trás, em quem acertasse seria aquele...
Não me esqueço de uma vez em que passávamos por Uberaba, por uma estrada de terra já quase noite, chovendo forte, longe de posto de combustível. Naquela época viajávamos horas sem passar em nenhum posto, era raridade, às vezes levávamos tambores de gasolina, acho que por isso as crianças enjoavam tanto, o cheiro era insuportável. Bem, como ia dizendo, o limpador de para-brisa estragou o motorzinho, assim ele justificou, então amarrou um cordão e me deu a ponta para segurar, era para ficar puxando, senão parava. Imagina a Kelly no colo dormindo eu com uma lata entre as pernas que não aguentava mais em ficar naquela posição, ainda fazendo força para puxar a corda, veja minha situação.
Quando doía o braço, a corda bambeava, o limpador parava, e vai bronca... Chegava... Que beleza... Mais quase morta... Depois de alguns dias, começava a sofrer pensando na volta.
Com essas dificuldades fomos demorando mais tempo sem ir ver nosso povo, fomos perdendo o convívio gostoso, as formaturas, os batizados, os nascimentos... Meus irmãos, solteiros foram para Belo Horizonte, estudar e trabalhar, eram Lucia, Ângela, Tânia e Marcio alugaram um apartamento e moravam juntos Loudinha, já tinha montado um salão de beleza e estava bem, ficou em Curvelo. Papai, ainda tinha o retiro, mas a casa ficou vazia... estava mesmo muito ruim...

Nenhum comentário:

Postar um comentário