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sexta-feira, 6 de julho de 2012

O protético




Hoje, como podem notar, escrevo a quinquagésima história! Está sendo fácil?
Não, às vezes entro por um raciocínio que não deveria, escrevo grande parte, de repente, aquela situação estava lá no começo... Como inverter tudo isso? Simplesmente não sei, sou insegura, conheço a situação e não me sinto dentro dela.·.
Creio que isso acontece com todas as pessoas que querem registrar suas vidas, não somos escritores, somente atrevidos... Então, dando continuidade... As coisas estão mudando, o Soares, como sempre sonhando em ser alguma pessoa importante... Pensou!... Poderia ser um protético, agora que a filha era uma dentista formada!
Logo Sandra, apresentou para o pai um protético, fez amizade, ele sabia muito bem como fazê-la, não demorou, comprou todos os materiais, e foi treinar... Tinha muitas ferramentas, era seu desejo ter todas para nunca precisar pedir emprestado e não gostava de emprestar, tinha que devolver na mesma hora que pegasse e ficava bravo quando isso não acontecia.
Mandou fazer uma mesa grande com gavetas e chaves, ficava lá na lavanderia, pois na nossa casa não havia espaço para mais nada, era muito pequena, pensava que quando mudássemos para a casa nova, ai sim, teria uma oficina montada. Com essas ideias, e preocupações, as vendas que fazia foram caindo, motivo para a empresa que trabalhava no momento o mandasse embora.
Chegou em casa radiante, era tudo que queria, me chamou e disse, "Fizinha, advinha o que me aconteceu, a melhor coisa do mundo" pensei... “Foi promovido no serviço!" Não... “Ganhou um premio pelo desempenho do trabalho?” Não!... “Então, ganhou na loteria de novo?” "Não, fui mandado embora!” Naquela hora me deu um aperto no coração, não acreditava no que ouvia! Argumentava feliz... “Agora vou ganhar muito dinheiro, com as próteses”, “com o acerto vou comprar tudo em materiais você vai ver.”
Foi como um balde de água em minha cabeça! Pensei, “devo estar merecendo tudo isso, só pode!” Ficou aquele clima desagradável, eu pressentia que ele não levava muito jeito para fazer prótese, demorava muito... Não sei onde arranjou uma caveirinha de animal e testava fazendo dentes para esse bicho, que eu não sabia o que era.
Meu trabalho estava de vento em popa como dizem, já tinha comprado muito material para a reforma da nossa casa, agora já começava a ajuntar para a mão de obra, já tinha também contratado um construtor, o mais barato, pois a grana era curta, e já que o marido estava desempregado podia ficar tomando conta da obra, seria o certo. ·.
Durante esse tempo, fiquei com depressão, precisava mais isso!... Chorava muito sem saber o motivo, mas no fundo havia muitos... Só não entendia... Ou não queria entender.
Selma me arranjou um médico, psiquiatra, para fazer uma consulta, pagou pra mim, mandou que não deixasse de comparecer... Na hora certa fui, foi uma bênção, me disse que não segurasse nada, se desse vontade de falar palavrão que falasse, doesse a quem doesse “mas se sinta aliviada...” Contei pra ele toda minha vida chorei, e ele me ouvia com paciência, e sem pressa depois no final ele me disse agora, a senhora vai escutar a minha história e contou, não sei se foi verdade; só sei que a vida que ele me falou era pior do que a minha e chorei também e ele chorou.
Naquele dia passei a ser diferente não engolia mais sapos. O marido, reclamou, notou a diferença, eu não aceitava tudo de qualquer jeito eu discutia e não me calava, chegou mesmo a me dizer, "você não é mais a mesma”.
 
O Peter tinha saído do exercito há pouco tempo também estava sem conseguir emprego, cada dia uma namorada, saia todos os dias, chegava pela madrugada, dormia ate meio dia, nos finais de semanas o pai entregava o carro para ele e dava um pequeno troco para gastar. A sorte, é que Peter. Nunca nos trouxe preocupação com vícios, sempre foi um menino comportado, gostava era de namorar, e ir para festinhas que muitas vezes faziam lá em nossa casa, as meninas também gostavam de fazer, eu mais ainda porque estavam juntos.

Uma manhã acordei irritada, não estava certo aquilo do Peter levantar ao meio dia! “Tenho que tomar uma atitude, já que o pai não toma,” pensei e decidi vai ser agora... Nossa cozinha ficava no barracão ao fundo, já na hora do almoço Peter foi tomar café, assentei junto dele, lembrei-me de um livro que havia lido, Fernão Capelo Gaivota, acho que foi esse não tenho certeza, onde ele descreve que a águia, quando quer que o filhote voe é porque já chegou o momento, ela desmancha o ninho, ai ele vai... Entendi que chegou minha vez de desmanchar o ninho do meu filho não podia esperar mais, o tempo passava, ele tinha que correr senão ficaria para trás eu não queria isso. 

Então, não pensei duas vezes, e mostrei que estava muito bom, casa, cama arrumada, roupa lavada e passada, banho, comida na mesa e carro nos fins de semana. Falei, joguei pra fora o que estava me preocupando. Talvez, se tivesse deixado pra depois não teria acontecido, uma grande arrependimento que se abateu no meu coração, mas as palavras como as pedras lançadas não voltam.

Peter olhou pra mim assustado, jamais esperava aquilo, e que surgisse logo de mim que sempre estava ao lado deles. Ele não teve palavras, apenas uma lagrima saiu de seus olhos que até hoje me emociona. Levantou-se da cadeira, passou pela sala e saiu pra rua, mais tarde lá pelas quinze horas, chegou, entrou no seu quarto, pegou a mochila do exercito colocou algumas roupas assim imagino, chegou onde eu estava costurando e me disse que estava indo para Goiânia, não achei o que dizer, depois daquela conversa podia esperar tudo... Peguei algumas moedas na gaveta da maquina, era tudo que eu tinha, ofereci, ele não queria aceitar, depois insisti ele pegou e deu tchau... Passaram-se dois meses sem nenhuma noticia, só tinha medo, que na falta de apoio, viesse a fazer coisas que não devia.
Rezava e entregava para Deus tomar conta, Ele na certa me entenderia, o porquê daquela decisão. Chegou o Natal... Nada, nem um telegrama, uma ligação a cobrar... Passou... Passou... Nada... Depois alguns dias do Natal, chega em minha casa um amigo dele e nosso, Ednilsom, entrou assentou-se, eu curiosa perguntei, “esteve com Peter?” Respondeu-me “sim!” “Ele está bem?” “Sim!” Não rendia assunto dizia somente “sim” nas minhas perguntas, isso não é suficiente para uma mãe, queria saber mais! Perdi a paciência, cheguei pra perto e disse, “conta-me tudo quero saber, onde mora o que está fazendo...” disse-me que trabalhava em um restaurante, lá ele comia, havia um quarto onde dormia, e que estava bem podia ficar sossegada.
Não demorou fiquei sabendo pelo mesmo amigo que Peter, estava indo para o Pará... Vi que não tinha mais como segurar foi bater asas muito longe.



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