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domingo, 8 de julho de 2012

O sonho




Agora, vou voltar naquele assunto do sonho! Alguém tá lembrado? Aquele que pedi para perguntar se sonho era verdade?

...Sim é isso mesmo... Minha vida estava a mil por hora... Muito trabalho de costuras, sem ajudantes, longe de lojas de aviamentos, longe de tudo até da cidade era mesmo o lugar que Judas perdeu as botas. Mas feliz!... Era o que eu podia ter, nunca pensei alto, acho que cada um recebe seu quinhão... Então continuando... Na minha comunidade só tinha missas aos domingos, agora não podia ir às dezoito horas na catedral, o máximo que fazia era ir ao grupo de orações as quintas feiras, depois das aulas Kelly me apanhava para vir embora.

Às vezes levava as roupas para as clientes dar provas, elas tinham dificuldades para encontrar meu endereço, mas tudo bem, não demorou  fizeram avenidas e facilitou o acesso ao nosso conjunto residencial.

Um domingo participava da missa, na saída deparei com uma moça que também participava, me dirigi a ela e perguntei se estava morando aqui, me respondeu que sim, era logo ali perto da minha casa. Na verdade, conhecemos as pessoas que comungam a mesma fé, as encontramos todas as vezes que participamos de um ato litúrgico, mas essa era a primeira vez que a via, saímos juntas como se já nos conhecêssemos, trocamos informações... Falou-me que os pais tinham comprado uma casa aqui, disse-me que estava morando em Recife a trabalho, tendo sido transferida para Uberlândia há poucos dias.
Uma pessoa agradável, amiga atenciosa e os encontros na igreja se repetiam.
Em um domingo, conversando, disse a ela que o meu maior desejo era ir a Terra Santa, mas tinha medo até de pensar, porque sabia que seria impossível, as condições financeiras eram precárias, nos mantinham com costuras e sempre era a conta, não sobrava para economizar... Para minha surpresa, ela respondeu-me, “é meu desejo também... Vamos começar a pesquisar, para ver como precisamos fazer?” “Se não der, pelo menos tentamos a senhora não acha?”

Naquela hora... Acendeu uma chama no meu coração... Ninguém nunca tinha me tocado assim com palavras tão convincentes! Fiquei a semana toda, pensando... Pensando... E pedindo a Deus, se fosse para dar certo que Ele tomasse conta. Naquela mesma semana, minha amiga, vou chama-la assim, foi a serviço do banco que ela trabalha em Uberaba, no horário do almoço foi na igreja de Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa, rezou, fez as orações e saiu, depois lembrou que não tinha rezado para São José, voltou até a imagem do santo, se ajoelhou e rezou...
Só que pregado na imagem tinha um cartão escrito, "viagens para Terra Santa com poupança programada" e o telefone; ela anotou na mão, chegou ao banco e ligou, responderam pra ela que iriam mandar o prospecto da viagem e uma novena de São José, ele era o padroeiro da viagem, podia ficar tranquila que ia dar certo. Não demorou, o correio entregou o prospecto com a novena, como todos os dias ela passava em minha porta, era seu caminho, me dava as noticias. Mas era muito caro o preço, pesava muito pra mim, e até pra ela também, mas a animação foi só aumentando, contei para o marido e os filhos, alertaram-nos que aqueles lugares do roteiro, estavam em guerra, seria muito perigoso!
Mas não pensávamos no pior, só no melhor... O meu genro Nei, rolava no chão e ria, dizia minha sogra agora pirou mesmo vamos precisar interna-la. Então, começamos a novena, antes de terminar a mesma, minha amiga recebe uma carta da colega de Recife, contando que tinha chegado da Terra Santa, que tinha ficado muito emocionada e que estavam montando outro grupo para final de outubro que ia voltar e levar a mãe, falou também que restava um lugar e tinha pensado nela.

Minha amiga respondeu que gostaria muito, agradeceu e disse que precisaria de dois lugares, não teria coragem de ir sem mim. Enquanto isso, tudo indicava que São José estava providenciando... Todo dinheiro que eu recebia trocava em dólares e escondia dentro de uma lata, com medo de ladrão entrar e levar costurava dia e noite não me cansava, o serviço saia tão rápido e perfeito que costurava uma manga, quando ia costurar a outra já estava pronta, tudo acontecia sem esperar.
Tem coisas que me aconteceram que nunca tive coragem de contar, as pessoas não acreditam e levam para o lado de gozações... Estávamos no mês de junho, fazia muito frio, perto da minha casa estava acampada uma família com muitas crianças, precisavam de cuidados, a mãe era cega e a barraca pequena, eu cuidava da minha casa das costuras fazia bolo, esquentava leite, corria lá, levava, pedia para os vizinhos pão, levava, pedia cobertas para as freguesas e agasalhos para as crianças.
Era um tempo corrido! Ainda conseguia tempo para rezar o terço com eles à tarde, e correr atrás de políticos para arranjar emprego para aquele senhor pai das crianças.
Na metade da segunda novena a colega de minha amiga liga pra ela e diz que havia uma desistência no grupo sendo assim teria um lugar pra mim, era preciso só depositar o valor de duzentos dólares para garantir. Passou o numero da conta em Recife, o nome da pessoa não era o coordenador da viagem ele não tinha conta em banco, falei com minha filha Selma, ela me deu o cheque para depositar, ficamos apreensivas, não conhecíamos as pessoas só minha amiga conhecia a colega Salomé, o tempo estava apertando, eu abria a bíblia e saia aquela passagem "pode comer e beber tranquilamente o perfume será derramado sobre sua cabeça." então eu chorava mostrava pra Selma, ela me tranquilizava e dizia você vai, ajunta seus dólares, quando faltar poucos dias, contamos, o que faltar vou ao banco e faço um empréstimo já conversei com o gerente.

Voltava pra minha casa, ia fazer novena, ia levar comida para a família, ia costurar... Pensei, na ultima hora se for preciso vendo o carro, é meu mesmo depois dou jeito de comprar outro quando chegar. Meu marido só dizia, "vai procurar sarna pra coçar... Com aquela guerra!... Você não vai voltar"... Eu respondia "Morro feliz". Minha amiga Joana, também corria atrás de dólares apesar dela ser bem remunerada, precisava completar, fazia panos de pratos e vendia no banco, eu fiz rifas de uma joia que havia comprado na Bahia, tudo era válido.
Olha dois mil e oitocentos dólares não era muito pra outras pessoas, mas pra mim era... Meu dinheiro era muito sofrido... Pedir ajuda só para caso de doença, passear para muitos é vaidade... É luxo... E logo pra quem? Essa costureira pode tratar de ficar quieta... Isso seria muito! Pode quietar o facho...

Faltava ainda um tempo para a data da viagem, pensei agora vou vender o carro já tinha pensado no comprador, porém à noite Kelly sai com a tia e uma amiga, na volta para casa, subindo uma avenida, não devia estar devagar, entrou outro carro avançando a preferencial e bateu no nosso, o fazendo capotar por duas vezes foi aquele Deus nos acuda, felizmente as nossas meninas não se machucaram, mas o carro foi para o ferro velho, perda total. Pela manhã Kelly chorava e dizia e agora mamãe, como você vai fazer... Acabei com seu carro. Eu não me desesperei, o pai da moça que estava ao volante prometeu que iria pagar o carro, mas tinha que esperar ele não tinha dinheiro neste momento, fazer o que? Tinha que passar a metade do dinheiro para as passagens, em outro numero de conta de outra pessoa que também não conheciamos às vezes mandava recados pelo telefone, começaram a suspeitar que fosse golpe... E as passagens? "vocês vão pegar em São Paulo, com as pessoas da canção Nova”, também não conhecia ninguém, chegamos a pensar é fria... Meu genro Geraldo, perguntou, ä senhora vai com quem?”Disse não sei”! Como chama a pessoa que vai levar o grupo? Não sei! O recibo do banco está no nome do coordenador? Não, de outra pessoa... Então vão pra São Paulo, sem passagens, sem nome de ninguém e vão embarcar as quinze e trinta para Terra Santa! A senhora acha que tá correto? Vou ficar em casa se der errado me liga vou buscar a senhora.
Então, isso foi em uma quinta feira treze de outubro, na quarta tinha sido o aniversário de meu pai, eu não fui porque tinha que viajar na quinta, mas todos os irmãos foram o Marcio que mora em Curvelo foi com esposa e um filho pequeno, voltavam para casa de carro com o filho dormindo nos braços, e outro irmão Vivaldo dirigindo,quando uma caminhonete dirigida por um bêbado veio e bateu no carro, acidente terrível meu sobrinho morreu e meus dois irmãos se machucaram muito, nem sei contar direito, só sei que não me contaram nada para não me preocupar.
Eu via as filhas com os olhos vermelhos disfarçando, dizendo que estavam tristes porque eu iria demorar etc. Esqueci o principal, faltando três dias para a viagem, juntaram meus filhos em volta de uma mesa, busquei a lata do dinheiro para contar e vê quanto faltava, advinha? Passava seiscentos dólares veja a felicidade!...

Viajamos naquela noite de quinta feira treze de outubro para São Paulo, chegamos pela manhã e fomos direto para Guarulhos, ainda estava muito cedo, fomos à capela do aeroporto, a missa começava, participamos, tínhamos todo tempo do mundo, só não tínhamos as passagens e a certeza de ir... Mais tarde assentadas no saguão, começou a chegar pessoas comentando sobre a ida a Terra Santa, o assunto nos interessava, pois esperávamos o pessoal da Canção Nova! Mas nada de ninguém nos procurar... Quase na hora do chek in, a Joana ouviu uma voz, e me disse essa voz eu já ouvi na rádio da Canção Nova! É do Eto, era um grupinho de diversas pessoas, então a Joana perguntou, “vocês são da Canção Nova?” “Sim, e vocês são Joana e d. Zélia?” “Estamos com os bilhetes de vocês,” e nos entregou, corri ao telefone, fiz uma ligação a cobrar para meu genro Geraldo avisando que estava tudo certo e que sentíamos muito felizes. Partimos para Recife, lá o grupo completou-se, éramos sessenta e quatro participantes, tinha pessoas de todas as partes do Brasil.
Esse pacote tinha duração de trinta dias, teríamos um curso bíblico na Terra Santa, quer coisa mais maravilhosa? Eu chorava de felicidade, jamais tinha imaginado que isso fosse acontecer ainda mais daquela maneira, o passeio era perfeito... Completo aos nossos desejos...

O restante dos dólares fui entregar para o coordenador Gilberto, agora já tinha sido nos apresentado, dava para confiar inteiramente, correto seguro, pessoa de confiança, ele não quis receber preferiu que entregasse na volta, então fiquei com a responsabilidade de carregar aquele dinheiro, ainda me disse, “pode pagar depois tem gente que deu cheques pré-datados, a senhora não se preocupe!” Pensei olha só, como estava ansiosa... São José é mesmo caprichoso... De Recife, fomos direto a Portugal, em Fátima, fiquei encantada com tudo que via e ouvia a procissão das velas no campanário, as missas celebradas em diversos idiomas, ficamos lá quatro dias, não tinham pressa, tudo muito organizado fomos à casa dos pastorzinhos a gruta das aparições.
De Portugal, para Tel-aviv, depois Jerusalém, ai começou a verdadeira caminhada, vivenciando cada momento dos acontecimentos na vida de Jesus, as passagens da bíblia vivida ali. Um Frei foi o nosso guia, ele morou no Brasil e falava nossa língua com perfeição, Com rádios de comunicação, ele ia aplicando o curso bíblico. Naqueles lugares, que podiam nem ser iguais por causa de tantas destruições, muitos subterrâneos, pelas mudanças de estruturas.

Era época de guerra, lá sempre estava em combate é assim o povo não tem nossa paz. Os tanques nas ruas são normais ninguém se assusta... Simplesmente entraram no ritmo da cidade, gritos e corre corre a toda hora, homens e moças armados até os dentes... E eu estava muito feliz... Um sonho sendo realisado... Ofegante... Coração apertado de prazer... Eram mil novecentos e noventa e quatro. LEMBROU AGORA? AQUELE SOL EM FORMA DE QUATRO? A história vai continuar... Verão mais adiante o desenrolar maravilhoso... 

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