Comprávamos tecidos com o
dinheiro que ganhávamos com as costuras, fazíamos roupas de crianças, embalávamos
direitinho e levávamos nas lojas Cruzeiro na cidade baixa, as roupas eram deixadas
em condicional, e Deus ajudava... Quando voltávamos já tinham vendido tudo, pegávamos
o dinheiro e comprávamos mais tecidos, já tínhamos um tanto de dinheiro junto, felizes.
Um dia, o Soares chegou disse que
um amigo dele o Dr. Washington, estava construindo um hospital, e precisando
fazer toda a roupa que os funcionários iriam utilizar, perguntou se queríamos
fazer. Foi um achado, fomos ao magazine Florensilva e compramos uma maquina
industrial; eu cortava, Ana Maria costurava, colocamos uma moça para ajudar, o
rádio ligado ouvindo novelas, chorando com os dramas e éramos felizes.
Mas o Soares queria que parássemos
ali. Como? Agora era tarde! Ele estava irredutível... Voltamos a fazer
escondido de novo! Pegamos da casa Alberto, mil fardas de empregadas, eram
uniformes completos, seria muito trabalho... Mandaram os tecidos de caminhão, e
para esconder, foi preciso colocar debaixo das camas detrás das cortinas, debaixo
de colchões.
Às vezes começávamos a cortar e tínhamos
que parar porque ele chegava de surpresa, e tínhamos que correr. O porteiro nos
avisava, tínhamos medo das meninas contarem... Mas elas nunca fizeram isso. Eu
pensava, “não pode ser assim, não estamos erradas.” As coisas não acontecem sempre
como a gente quer. Compramos algumas joias como investimento, diziam que era bom,
mas foi um inferno... Fui usar uma para ir a um aniversário, foi a maior briga,
começou a desconfiar, achou que eu estava o traindo... Precisamos provar de
onde estávamos tirando dinheiro, depois de tanto sofrimento ele concordou. Sentindo-nos
aliviadas, continuamos a fazer muitas e muitas costuras. Confeccionamos para o
magazine Florensiva duas mil peças para o carnaval, eram fardas como diziam, mas
na nossa realidade, eram calças compridas com casaquinhos com golas e sem
mangas, nas cores vermelho azulão amarelo, e verde.
O carnaval em Salvador sempre foi
o melhor e continua sendo. Nesse tempo minhas primas queridas e amigas de infância,
já tinham casado a maioria, poderia contar muitas coisas divertidas desses
acontecimentos! Mas pelo curto tempo que tenho, não será possível, tenho prazo
para terminar minhas escritas...
Voltando o assunto, Sandra estava
sendo preparada pelas freiras para fazer a primeira comunhão, e Selma, agora já
estava também na escola. Nas avenidas de Salvador, ficavam os guardas a dar
sinais com os braços direcionando o transito, ela se encantava, e sempre que passávamos
junto aos guardas ela ficava imitando, no natal falou que queria uma roupa de guarda,
então foi comprado o uniforme completo, e como ficou contente!
Sandra ganhou do pai um instrumento
de teclado, uma pianola, queria aprender tocar, não tinha quem soubesse dar
aulas daquele instrumento; arranjou uma professora de acordeom, sendo assim, comprou
um acordeom. Em pouco tempo ela já tocava diversas musicas, formaram até uma banda
que era uma beleza, cantavam e tocavam, faziam apresentações em festinhas.
Eu notava que ela não gostava
muito de dar apresentações, quando pedia para tocar para alguém vinha
contrariada. Durou pouco, tomou raiva, pôs fim. Abandonou...
O sonho do Soares era voltar para
BH, desde que aceitou vir para Salvador, achava que como gerente poderia ser
transferido para onde quisesse... O irmão dele Protásio, já estava como gerente
em Recife, como já escrevi, então quem foi para BH? O irmão! Estávamos bem, em
vista de outras épocas, ou melhor, ótimos. O marido, sempre gostou de
superioridades em tudo, não era fácil trabalhar com ele, as pessoas viviam pressionadas
com tantas exigências, criava caso por pequenas coisas, eu podia notar que não
era querido nem pelos diretores da empresa, ele aumentava a paparicação para
ver se isso o tornava mais simpático! Inutilmente... As pessoas nunca mudam, é possível
melhorar, mas sempre quando menos se espera voltam a estaca zero...
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