Chegaram as tão esperadas férias,
só falávamos na viagem, comprar presentes, poucos, para não pesar as malas,
tudo muito pensado e medido... Seriam belos dias, matar as saudades de todos
isso era maravilhoso. Eu e as crianças, no avião Electra 2 até Belo Horizonte,
do aeroporto da Pampulha para casa dos meus sogros contrataríamos um taxi.
Soares achou por bem vir no jipe,
queria mostrar como estava evoluído, trouxe com ele um ajudante, muitas bolsas
de palhas, tambores de combustível, caso não encontrasse postos, e alimentação
para os três dias que tinha calculado duração da viagem, não conhecia o
trajeto, estava arriscando, dando um pulo no escuro.
Resolveu na ultima hora trazer a
Licia, nossa empregada de confiança, mandou colocar um bagageiro no teto do
jipe, porque dentro não cabia mais nada, e as ferramentas! Precisava se
prevenir para uma casualidade, pensou em tudo. Me contaram quando nos
encontramos que tinham tantas coisas em cima do jipe que a carga pendia para o
lado, as pessoas passavam e faziam sinais com o dedo polegar, queriam dizer que
estava joia... Ele parava, descia do jipe, chamava a Jose, para ajuda-lo a
passar mais uma corda, entendia que a pessoa queria dizer que a carga estava
para cair.
A viagem durou uma semana, o jipe,
não fazia mais de quarenta quilometros na estrada, quando tinha um mata burro,
precisava o José descer e ficar na frente direcionando a passagem, para evitar
cair no buraco. Foi assim até Curvelo, chegou por lá, passou por Montes Claros,
chegaram bem sujos, empoeirados e fedidos, haviam se esquecido de deixar roupas
para trocarem, imaginem uma semana nas estradas de terra sem banho! Até ai tudo
bem, eram causos e mais causos... Repetia sem parar para os amigos que eram
muitos e para cada um contava de novo, sempre aumentava no desenrolar da
conversa diziam que dormiam assentados dentro do jipe, impossível imaginar
tanto sacrifício... O Soares, era mesmo porreta como falavam, dava jeito pra
tudo ao modo dele. Não se animou ir a BH para nos buscar no jipe, pensou que o
movimento seria muito, preferiu ir de jardineira, assim foi feito.
Encontrar novamente os irmãos,
embora faltando Nicinha que havia casado com o amor da vida dela o Hélio, e já
tinha nascido Euler a quem passamos a chamar de Leleu; depois uma menina,
Luciene linda... Parecia uma princesinha, em seguida Nádia, esperta como ninguém.
Armando que já havia se casado com Áurea, moça bonita e faceira foi um achado
muito bom. Eles tiveram só dois filhos Jerry e Petrônio.
Mamãe nos aguardava com tudo já
preparado, os doces, as quitandas já tinham feito de véspera, as camas já
tinham sido selecionadas, ela gostava de tudo combinando e bem limpo, fazia
requeijão caprichado para o Soares, e doce de leite com pouco açúcar, era todo
esse xodó. No final da semana, fomos para o retiro, as meninas quiseram ir na
charrete, eu também, Soares e mais outros irmãos, era bastante perto, poderia
encher a charrete a mesma tinha dois bancos, ainda não vi outra igual.
Ficar lá no retiro, as crianças
se esbaldavam leite no curral andar a cavalos, tomar banho no rio, contar casos
na varanda, ver a lua cheia... Ah... E a luz de lamparina? Para minhas filhas
era novidade, elas não se lembravam... Naquelas férias José Carlos casou-se, muito
jovem, com dezoito anos, olha só, Vânia também era muito menina, pareciam duas
crianças, eu senti vontade de pega-lo e levar pra casa, sabia como é difícil a
vida a dois, eu já tinha passado bom pedaço, mas a vida era deles, tinham o
direito de tentar ser feliz embora eu não achasse, tiveram três filhos Rogério Fabrício
e Carla, não sei falar muito deles, não havia muito convívio por motivo de
estar sempre distante. Voltei para Salvador, agora o Soares já conhecia o
caminho, seria mais fácil, e não mais aquelas tranqueiras que havia comprado, voltaram
mais tranquilos, levando roupas para trocar, já tinham visto onde tinha postos
para abastecer, pensões próximas à rodovia, agora seria outra coisa, não
precisava cuidados, pedi que levasse Ana Maria para ficar conosco, mocinha
bonita, desimpedida sem namorado. Com ela meu apartamento virou um céu... Brincava
com as crianças, as levava na prainha, na escola.
Licia fazia serviço de casa, compras
na feira, que eram feitas todos os dias, não como hoje que é de vez em
quando... Naquele tempo, comprava-se todos os dias a comida do dia, pouca gente
tinha geladeira e fogão a gás, os mesmo eram elétricos. Ficando sem ter o que
fazer, voltou-me a ideia de costurar, ainda mais agora que tinha uma
companheira que também gostava.
Fazíamos nossas roupas, as roupas
das meninas e de alguma amiga, todos gostavam e perguntavam onde havíamos
confeccionado. Com isso, começamos fazer para as vizinhas, eu tinha diversas no
prédio onde morava, estava feliz com as realizações.
Um dia o Soares chegou mais cedo,
encontrou lá uma pessoa que tinha ido para provar roupas, ele virou fera, nos
ameaçou dizendo que não queria saber de costuras, se chegasse lá e tivesse
roupas de alguém iria por fogo em tudo... Eu não podia confiar nele, já tinha
me decepcionado muitas vezes! Sempre que pedia um dinheiro para alguma coisa, vinha
em seguida a pergunta "praquê?” Ou então "já te dei ontem!”, “O que
você fez?'' Eu não podia aceitar esse tipo de coisa, sabia trabalhar e tinha o
trabalho que gostava de fazer.
As meninas estavam estudando no
colégio das Mercedes, era de freiras e um bom colégio. Então, pensei não vou ceder!
Passei a fazer escondido... Olhava pela janela, vigiava o jipe, pedia a Licia
para ficar na janela no horário de chegada, de lá podia ver a ladeira por onde
passava. Quando ela avisava, corria fechava a maquina, escondia as costuras e
despistava fazendo outras coisas. Isso ai deu certo... Tão certo que resolvemos
fazer visitas nos magazines, e lojas, na cidade baixa e alta. Conseguimos
muitas encomendas, foi só o começo...
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