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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Minha primeira filha


O passado não muda, apenas troca a roupagem, assim é a vida! Vou escrevendo... Tem dia que não tenho vontade, outros tenho preguiça de raciocinar e voltar no tempo, e assim vou descarregando minha mente... Tem certos assuntos que são difíceis de descrever, entram muito fundo nas nossas intimidades, me lembro sempre da minha tia querida que já contei sua história lá no Gerais... Aquela que ficou viúva com as crianças pequenas. Lembrou? Ela dizia, “já que pôs o cavalo na água agora deixa molhar as orelhas”, é isso ai, não irei desistir.
Então, retornando a caminhada, como já disse eu estava grávida e minha mãe também, já em estado avançado, eram duas vomitando e cuspindo, nasceu Tânia, menina espigadinha e esperta, foi um dia feliz. Todos os irmãos que eram muitos queriam pegar um pouco, era pegar e balançar, a criança não podia ir para cama, nasceu com ajuda da Josina, tornou-se uma grande amiga de todos, e minha mãe fazia a propaganda com as amigas.
O Soares continuava na boa vida e bacana, agora sim inventou de comprar alguns bezerros para criar e vender para corte, mas escolheu aqueles mais feios e magros, como trabalhava em laboratório farmacêutico achava que era entendido no assunto, tinha muitas amostras de medicamentos, vitaminas e sais minerais, pensou... “Vou dar esses remédios para os bezerros e certamente irão crescer rápido e vão dar grande lucro.”
Mas foi só vontade... Os bezerros pegaram bernes e eram muitos, ele ficou preocupado, pensou “Agora ta danado...” “Eles já estão fracos e agora os bernes. O jeito era comprar bastante esparadrapo, gazes, giletes para raspar os pelos em volta dos bernes, passar uma pomada, fazer um curativo e esperar... certamente iriam morrer. Mas não aconteceu assim, o peão precisava laçar derrubar, segurar bem para ele se aproximar e fazer o curativo... Quando soltava, o bezerro passava a língua e tirava o curativo, isso resultou em dias e mais dias de trabalhos inúteis, não aceitava palpites...
Quando resolveu vende-los aceitou a primeira oferta mais barata que recebeu, pagou mas ficou livre da encrenca. Lá tinha uma vaca doente que já havia caído no buraco, estava toda machucada, não ficava em pé, só deitada, não comia, o Soares perguntou se dava a vaca para ele porque queria cuidar dela... Deu o nome de Charina, não sei o motivo desse nome, então chamou uns peões mandou fazer um estaleiro colocaram a vaca em cima, forçando-a ficar em pé, e todos os dias ia ao retiro de taxi dar remédio pra charina, dava banho com água buscada na fonte e o taxi esperando... A vaca nada de melhorar... Um dia chegou ela estava morta, ficou triste, mas não foi por falta de tratamento... Assim foi fazendo besteiras e gastando seu sagrado dinheiro.
Todos os meses procurava o médico em BH para fazer acompanhamento da gravidez. Então, quando foi se aproximando o momento fomos para BH esperar o nascimento, eu era muito magra só tinha barriga e o parto seria normal, o médico já tinha avisado que não podia nem imaginar o que eu passaria. Minha mãe não servia de exemplo, Pois ela não se queixava nem reclamava de dores, fui completamente enganada.
Assim que tive os primeiros sinais corremos para o hospital, o médico avisado e depois de muitos sofrimentos, já havia passado muitas horas de desconforto e torturas, nasceu a Sandra minha primeira filha, o pai ficou radiante, foi logo para casa da família avisar que a menina tinha nascido foi de taxi me deixando só, ainda não tinha passado o efeito dos medicamentos, quando senti que estava molhada chamei a enfermeira... Era hemorragia... Foi um corre corre, aplicaram medicamentos para conter o sangramento.
Estava mesmo muito mal. Quando Soares chegou e ficou sabendo do acontecido, foi dar broncas, era mestre em broncas. Pensava que tudo girava em torno dele, mas passou, e tudo foi solucionado. A pequena tinha tudo do bom e do melhor, muitos cuidados e muitas dores de barriga, tomou todos os chás que ensinaram, às vezes acordava durante as noites em gritos com cólicas ai levantava todos da casa para socorrê-la, era muita gente a dar palpites como criar filhos.
Eu ficava muito cansada, naquele tempo em BH não havia água suficiente em todos os bairros, a água chegava só pela madrugada, então precisava encher as vasilhas para o dia seguinte se não quisesse buscar no balde em casa da vizinha a uns dois quarteirões de distancia para tomar banhos, lavar fraldas que eram feitas de tecido branco e era preciso ser bem lavadas, para não ficarem encardidas.
Minha sogra coitada, uma santa viva, digo isso porque muitas pessoas criticam sogras eu só tenho a elogiar a minha, nunca vi outra pessoa com tanta doação! Já era de idade avançada e mesmo assim fazia de tudo para aquela família, até mesmo buscar água nos baldes para todos tomarem banhos e fazer todos os trabalhos, levantava às cinco horas fazia o café, fritava uns bolinhos de fubá de modo muito simples, uma mistura de fubá açúcar e leite se tivesse se não colocava água mesmo, uma pitada de sal um pouco de queijo se tivesse também, um pouco de bicarbonato de sódio para crescer e não fazer mal assim ela dizia, meu sogro depois daquele acidente que já falei, ficou com um defeito na perna e andava com dificuldades, então era entregue tudo nas mãos e creio que aproveitava disso para ser cuidado.
Ela com a maior paciência do mundo levava o café a toda hora para que o mesmo pudesse fazer a boca de pito como diziam, e como fumava, um atrás do outro. Cigarros de palha que ela ia comprar longe, e o fumo de rolo o predileto. E gostava de juntar amigos no quarto para jogar baralho, era um tal de vinte um, acho que era a valer, não gostava que agente olhasse, mas deixe pra lá!
Assim que preparava o café, ia para a missa, não faltava nem com muita chuva, era o que dava força... Só Deus dava tanta coragem, o Antonio que agora era delas as tias, estava sendo tratado com todo carinho possível foi tanto que o excesso acho que prejudica. Toda palavra que pronunciava era recebida com brilhos nos olhos. As cunhadas trabalhavam, saiam cedo.
Não tinham fogão à gás era lenha ou fogareiro à álcool todo um ritual para preparar as comidas, era muito sacrifício... Tinham medo do gás!  Mas o álcool também é perigoso... Fiquei em BH até terminar o resguardo isto é, quarenta dias, voltamos para casa em Curvelo de taxi para variar... Com a chegada da Sandra, eram visitas e presentes, a menina muito querida, com muitos tios e tias, uma quase da mesma idade a Tânia, cresceram juntas por algum tempo.

Um comentário:

  1. Amiga Zélia, continuo caminhando por sua prosas!! E te pergunto: Por que vc não publica todas estas prosas em um livro!!

    entre no site:http://clubedeautores.com.br/

    e publique! É muito facil!! Quero ver seu livro lá!

    Abraço,

    Valdir

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