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terça-feira, 3 de maio de 2011

Meu Irmão


Minha mãe estava grávida de novo, era como dizem: Um nos braços, outro na barriga e outro no pensamento, Também não tinha outra distração era cuidar das crianças que já tinha e fazer outras. Éramos felizes assim naquela vida simples, sem nenhuma preocupação. Naquele tempo minha tia caçula, a dodói, estava em Curvelo pra estudar, e veio uma prima que não era diferente, bem paparicada pela vó, primeira neta, podem imaginar o desastre. Tudo era pra pequena espoleta. Pra começar ela dormia na cama entre o Coronel e a vó! O resto da meninada era resto.... Uma noite precisei dormir lá, então mandou colocar um colchão na sala do rádio, já falei desta sala, lembram-se? Era grande e só tinha o rádio e uma cadeira.
Estava fazendo muito frio, aquele de doer, eu era bem pequena e medrosa, me deram uma coberta daquela bem leve e fina, simplesmente não consegui dormir sentia muito frio e medo, esse me acompanha até hoje, sempre que vejo um lugar igual aquele, sinto frio. O tempo ia passando... Minha mãe já estava quase na hora do parto, papai já não ia longe com medo dela precisar dele. Um dia mamãe sumiu, eu não podia imaginar que tinha chegado a hora, o papai chegou correndo logo ouvi o choro da criança era menino! Me lembro que o pai deu a notícia assim com peito cheio, disse: - é macho! Mande avisar a todos!  Mandou os cachorros pegarem o frango para fazer a sopa. Quando uma mulher ganhava criança, a primeira coisa que faziam era a sopa e queimavam cachaça com folhas de laranjeira pra dar a ela, pra aliviar do cansaço de ter feito muita força. O pai já tava treinado nem precisava da vó, agora as meninas ficaram pra trás só se falava no macho saco roxo como diziam. La tinha um senhor João Gabriel que tinham como curandeiro, tudo que necessitava de curar era com ele mesmo, pessoa de riso fácil e comunicativo. O irmão tinha uma pequena hérnia, mandaram chamar o João para benzer, lembro-me que do outro lado do rio tinha uma tapera onde tinha um pé de pinhão, precisava passar o menino pelo galho da arvore fazendo orações três dias seguidos. Acho que tanto virou de cabeça que ficou curado. Fomos crescendo, já éramos cinco, continuava a luta, a mãe ficava na cama muitos dias com algodão no ouvido e de meias, com janelas fechadas e ninguém podia fazer barulho. Sopa de galinha era todos os dias. As visitas vinham de longe, os parentes, meus avós maternos ainda não falei deles, eram o contrário dos paternos com eles podia tudo, estar com eles era estar no céu, todos traziam sempre um frango debaixo do braço de presente, era o costume do lugar. Ficávamos muito contentes, parecia festa de tanta gente, traziam também quitandas, doces e farofas que era a matula, sempre sobrava da viagem. Todo o povo ficava uns dias na nossa casa, pois a viagem era longa e cansativa. Vinham em cavalos e mulas, a fazenda deles era distante tinha que passar em diversos córregos e atravessar o ribeirão que era um rio caudaloso. Quando meus avós voltavam pra casa eu ia com eles, isso que era vida, lá dormia entre eles, já estava com seis anos e ainda andava de cavalinho no vô, todo lugar que ia estava junto. Na roça de abacaxi sempre tinha algum reservado pra mim. Minhas primas moravam perto, quando eu chegava elas mudavam pra lá e nos divertíamos muito fazendo panelinhas de argila. La fabricavámos tijolos, no dia de queimar os mesmos colocávamos nossas panelinhas ao sol, elas ficavam vermelhas era mesmo uma beleza. Um dia chegou uma vizinha e disse que não podia fazer panelas na lua cheia porque ia trincar.  Então as panelas já estavam prontas, procuramos no paiol uma mala velha e colocamos as mesmas e escondemos debaixo da cama, como que isso fosse resolver. Minhas primas sabiam brincadeiras novas, podiam brincar no córrego era bem raso sem nenhum perigo. Lá tinha também um professor que dava aulas pra criançada do lugar, Lá não havia palmatórias nem castigos era só alegria. Todo mês rezavam novena, meus parentes sempre foram muito religiosos era uma vida de paz e amizade.  Viviam em comunidade quase como os primeiros cristãos, partilhavam o que tinham, e nunca faltava nada. No final do ano ia um padre de Curvelo celebrar missa, ai que era festa boa, chegavam caravanas de todos os lados, carros de bois que de longe se ouvia o cantar, às vezes a gente colocava os ouvidos no chão pra ouvir mais longe, quando chegavam, os cavaleiros volviam os cavalos nos cupins e nos mourões fazendo graça para os visitantes. Depois era só festas comes e bebes e arrasta pé, aproveitavam o padre e faziam os casamentos e batizados, primeiras comunhões e tudo mais alem de abençoar todos os santos. O padre ia a cavalo e ficava uns três dias, era muito trabalho, tinha até que aconselhar o povo que estava brigado e fazer as pazes. Nas festas de São João, também juntava todo o povo pra festejar, levantavam o santo, acendiam a grande fogueira e o arrasta pé ia até o dia amanhecer.

Um comentário:

  1. ENCANTADOR, É A SENHORA TEVE UMA LINDA INFÂNCIA.
    AS CRENÇAS, LENDAS , O PADRE , AS BRINCADEIRAS, O PAI , MÃE, AVÓS, PRIMOS E TUDO QUE O CONTEXTO OFERECEU PARA SUA VIVÊNCIA NA INFANCIA, FEZ O QUE A SENHORA É HOJE.
    VIVER É EXISTIR COMO PESSOA. PARABÉNS A SUA EXISTENCIA É MARCANTE E CHEIA DE SIGNIFICADOS.

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