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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A casa na cidade


Sendo assim, as coisas foram tomando um rumo, na cidade, nossa família já estava instalada, como era preciso. Logo ficamos sabendo que a casa que fazia fundo com a nossa, estava a venda. Olha ai, podia haver melhor oportunidade para o tio José de Evaristo comprar e trazer nossos primos e primas para morar ali e estudar? A idéia era muito boa! O pai procurou logo o dono da casa e segurou o negócio. Em seguida mandou recado para o tio vir fechar a compra. Assim que chegou e viu que a casa era do jeito que ele tinha pensado, que poderia continuar na fazenda, e os filhos não iriam ficar junto com estranhos, estava tudo em casa, agora era rezar para aparecer outra casa para o tio Inácio. Ele também tinha filhos na idade escolar, os primeiros anos já tinha feito na roça, mas era preciso continuar.
Nossa alegria era contagiante, os outros primos teriam de vir também, não dava pra separar... Ficou um bom tempo sem aparecer nada, de repente, conversa vai, conversa vem, o pai fica sabendo que em frente à casa do tio José tinha uma casa com um cômodo de açougue pra vender. O pai não poupou tempo foi atrás, fez o negócio para o tio, fez mesmo antes de consultá-lo com medo dele perder a oportunidade. Agora estava bom todos próximos. Ficava assim, da nossa casa, passava pra casa dos primos, tinha um porém, saltar o muro... Mas não demorou o muro foi quebrando uns pedaços.
Os filhos do tio Inácio vieram assim que puderam morar na cidade, os pais continuaram tocando os trabalhos com as lavouras e gados. Quem precisasse ir até as fazendas, teria que ir até a ponte do bicudo de caminhão, e de lá até em casa de cavalo. O caminhão ia toda semana levar encomendas e trazer o povo com as coisas para vender, como: queijo, rapaduras, frangos, polvilhos, farinhas etc. O Batista, que já falei, aquele criado pelo vô Evaristo, ele sempre levava frangos pra vender, chegavam sempre à noite, e pela manhã precisava dar milho aos frangos antes de colocar na vara pra oferecer de porta em porta. Também ajudava a dar peso. Então assim que abriu o comercio, Batista entrou e perguntou, "Ai tem mio?" A vendedora disse. "Mio não tem... Tem milho!” Ele respondeu. "Pensei que entrei numa venda, e entrei foi numa escola, a senhora me desculpe, e pelo jeito a senhora é a diretora." e foi saindo, ele costumava vender as coisas e guardar o dinheiro amarrado em um lenço. Quando a moça viu a trouxa de dinheiro, ficou toda amável, e quis vender tudo. Além do que ele precisava.
Tio Inácio ficou satisfeito com a compra da casa, providenciou logo a reforma da mesma para que ficasse mais aconchegante. Parece que o tempo era mesmo favorável as compras, não demorou um vizinho da fazenda S. Antonio, propôs comprá-la, o pai gostava de lá e tinha pena de vendê-la, agora não tinha mais o vô pra pedir conselhos. Conversou com a mãe, e chegaram à conclusão, que deveria esperar um pouco até aparecer terras junto das nossas perto de Curvelo para comprar.
Eles pensaram se vendessem agora, acabariam gastando o dinheiro, e estando empregado na fazenda estaria seguro. Dito e feito dai bom tempo apareceu um retiro ligado as nossas terras, já tínhamos bons pastos, e uma porção grande que tinha recebido de herança, ai sim, não podia recusar o negócio, estava melhor do que esperávamos sendo assim vendeu a chácara que dava mais despesas que lucros, comprou mais bois para cortes. Lembrou do cômodo de açougue do tio Inácio, na rua do fundo.
Como o retiro era perto, só nove quilômetros, dava pra cuidar dos dois. Lá já tinha uma casa de um tamanho razoável, uma cisterna coberta, com bomba pra jogar água na caixa, sem ser preciso buscar na fonte. O pomar formado já tinha algumas frutas da época, muita cana plantada para alimentação do gado no tempo da seca. Então pensou rápido, abrir o açougue... Teria o gado para fornecer as carnes, era uma boa idéia... Não demorou a realizar a vontade, antes da festa de S Geraldo o açougue já deveria estar funcionando, e funcionou.
Lá na cidade tinha tal de Senhor Germano, homem bom, silencioso, educado, só não dava prosa pra ninguém. Não sabemos o motivo porque que Armando sentia tanto medo dele. Um dia, o pai precisou sair para ir ao banco, pediu a Armando pra ficar tomando conta. Armando pensou, “vou assentar aqui, com a peixeira na mão, assim tô tomando conta de verdade...” Mas não é de ver, que justamente naquele momento entra o Senhor Germano, com o laço na mão. Ele trabalhava na prefeitura, pegando animais nas ruas. Armando, quando viu ficou branco, levantou até tremendo para atendê-lo. O medo era tanto, que cortava qualquer carne que o Senhor Germano quisesse. Quando o pai chegou, ele falou de peito cheio: “Hoje fiquei perto do Senhor Germano...” Papai disse logo, “não falei que você é macho?”
Com os primos juntos não tinha tempo ruim, todas as noites íamos brincar de cartas, agora já não ia pras ruas brincar de pega- pega, as conversas eram outras... Eram só rapazes, namorar escondido, assentar no banco das praças e ao avistar uma pessoa conhecida saia correndo, medo de alguém contar para os pais, eram besteiras ninguém estava nem ai. Ainda mais que andávamos de turmas. Dar voltas de bicicletas, era tudo de bom, éramos muitos, e as bicicletas poucas, precisavam tirar sorte pra ver quem seria o próximo.
Neste intervalo minha mãe já tinha ganhado mais dois filhos, Vivaldo que papai escolheu o nome olhando na folhinha do Sagrado Coração, dizia que era nome de homem inteligente, Cresceu forte e paparicado igual aos outros. No dia da mudança da chácara pra cidade a mãe sentiu uma dor... Advinha? Nasceu Lucia, veio como uma brisa mansa, pequena, como se tivesse faltado material, mas ela nunca precisou de tamanho para ser feliz... A mãe era ótima parideira, Depois que conheceu a Jozina, só pensava nisso... O pai vivia rindo, já tinha três homens faltavam poucos para um time de futebol. Sentiam muito orgulho de sua prole... Diziam sempre que os filhos deles eram os mais bonitos. Serenita ficava cuidando da gente na cidade, a mãe o pai e os pequenos no retiro, mas todos os dias o leiteiro vinha trazendo o leite para ser vendido, e final de semana íamos alguns de charrete, outros de bicicletas e voltávamos no domingo à noite.
Havia em nossa casa uma entrada lateral, por onde davam as janelas de dois quartos, pela manhã o padeiro colocava os pães na janela do fundo para comermos com o café antes de ir pra escola. Como nem tudo pode ser perfeito, os pães, estavam sumindo... Quem será? Ficamos imaginando... Mil idéias surgiram... Conclusão... Alguém estava pegando antes da gente! Nicinha, como sempre muito corajosa. Prontificou-se logo, "vou dormir aqui e pela manhã pego no flagrante". A janela era de madeira com taramela pra fechar, a cama ficava com a cabeceira debaixo da janela, o que ela fez?  Pegou um pau, cabo de machado, assentou na cama encostada na cabeceira, não deitava pra não dormir, taramela semi-aberta, agora é esperar... Só que cochilou... Pela manhã, quando o padeiro coloca o pão esbarra na janela, ela acorda, pula da cama já com o pau na mão, abre rápido a janela, levanta o pau pra atacar... O padeiro da um pulo pra trás e grita. “Opa! Sou eu..." Por pouco não deu uma surra no padeiro.

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