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domingo, 6 de novembro de 2011

O noivado


A... Como escrevemos cartas... Como falávamos ao telefone... Como brigamos também por ciumeira, ele imaginava as coisas e brigava... Quando saíamos, sempre alguém perguntava se ele era meu pai. Eu nem ligava, mas ele não gostava e saia logo de perto e dizia pra mim: “Que pessoa boba!”.
Mas foi assim, ele era representante de um laboratório farmacêutico e viajava naquela região de Curvelo. Estava sempre passando por lá. Eu nunca tinha namorado a sério, isto é, pensando em casamento. Eram só paquerinhas, flertes, e um namoro, desde quando nos conhecemos, tinha uma queda... Mas eram só brigas. Tinha dia que era uma beleza, ia me visitar em casa levando presentes e tudo mais. Não tínhamos nenhum compromisso, era coisa de infância.
Sebastião não podia nem sonhar que ele passou na minha rua. Meus pais já tinham me alertado que não iria dar certo pela diferença de idade, que sempre ia haver muitos ciúmes, e também meu jeito de ser, era muito divertida, brincava com as pessoas e ele não ia aceitar isso, fiquei pensativa. Ele era muito envolvente, e sabia como me ganhar, prosa fácil, entendia de tudo, cuidadoso comigo... Sabia conversar com os mais velhos, foi convidado a hospedar em nossa casa quando passasse por lá.
Os parentes gostavam muito dele, dos casos que contava de suas andanças, povo simples, e bons ouvintes, conquistou logo amizade de todos, sendo convidado para almoços, festas e tudo mais. Depois de muitas idas e vindas, ele um dia fez a surpresa de me pedir em casamento, aconteceu até almoço, com os parentes todos convidados, a casa ficou cheia. Era dia de festa. Não demorou o pai dele foi conhecer minha família. A mãe achava a viagem muito longa, e nunca teve animo de enfrentar a distancia.
Eu agora só pensava em fazer enxoval, naquele tempo usavam levar um baú cheio de jogos de cama bordados, toalhas de mesa, colchas tudo bordado com linha ilha da madeira, a Fifina, aquela artista que riscava para bordar trabalhava dia e noite para dar conta de tanta coisa, até pano de pratos teria que bordar. Precisei aprender o corte centesimal para fazer algumas costuras, às vezes passava as noites no retiro, com lamparina sentada em cima da cama bordando. Pela manhã as narinas estavam pretas de carvão do querosene, isso tudo pra levar um belo enxoval. E tem mais, toda vez que chegava alguém eu abria o baú e tirava as coisas para mostrar e guardar de novo, era muito trabalho... Mas era com prazer que fazia isto.
Minhas amigas também gostavam de me ajudar, bordando os panos de pratos. Às vezes Sebastião, adiantava o trabalho, e ficava mais tempo no retiro, era um amor danado! Minha mãe caprichava nas comidas, às vezes saia para cavalgar, ele não gostava, ou melhor, não tinha costume, apostar corrida nem pensar; era muito branco e bastava um pouco de sol pra ficar parecendo um camarão.
O noivado durou um ano e meio, e ficou combinado que iríamos morar na casa ao lado do papai como já disse anteriormente, eram duas casas, Curvelo ficava no centro do setor de trabalho dele, às vezes as viagens eram demoradas, mas geralmente vinha nos finais de semana, elas eram feitas de trem. Pegava o noturno as vinte e duas horas, levava duas malas e uma pasta pra trabalho, em uma das malas iam as amostras de medicamentos era bastante pesada, as roupas na segunda mala, precisava usar ternos e gravatas, isso é que encantava as moças, e as vezes também chapéu, olha que chique!
Os ternos costumavam ser de linho, os ferros de passar eram a brasa, e por capricho amava um terno branco de S120, linho grosso difícil para passar, eu como sempre muito boba... Queria mostrar que seria uma boa esposa, assumi logo a obrigação de cuidar das roupas dele até mesmo antes do casamento. Não haviam feito ainda as bacias de plástico, eram de folha de metal, o sabão era em barras ou feito em casa com restos de gorduras, os ternos brancos eu deixava de molho depois de esfregar bastante com folhas de mamão, que tinham me ensinado pra ficar bem branco.
No dia seguinte, quando ia olhar para acabar de lavar, era só ferrugem. Eu tinha vontade de morrer, pra tirar aquilo, me ensinaram colocar as rodelas de limão, depois um pano branco e finalmente o ferro quente. Só tem que depois disso a roupa ficava verde. E pra tirar o verde? E o medo das reclamações quando chegasse, era muito exigente, minha mãe sempre me alertava, mas os jovens não ouvem, o amor é maior, acha que é capaz de superar tudo. E para passar aqueles ternos? Com ferro a brasa, era um Deus me acuda... Quando as brasas começavam a dar estalos e soltar faíscas! Onde caiam faziam um buraco! Como diz o ditado, defunto muito encomendado erra a cova. Depois que fiquei doente não fui mais a escola, fiquei dois anos em tratamento, depois comecei a namorar logo fiquei noiva, ia casar, então não se estudava mais agora, eram outras as obrigações. Já tinha passado o tempo... 


Um comentário:

  1. Nossa mãe..início de uma longa história a Sra começou agora ..estou ansiosa pelo próximo capítulo rsrs...bjsss amo demais você !!kênia

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