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sexta-feira, 6 de julho de 2012

A reforma




Agora, como sempre eu precisava tomar uma atitude com coragem, terminar aquela casa que era tudo que tínhamos, era nossa apesar de ainda está devendo para o BNH, mas não importa, não éramos os únicos a dever.

Uma das minhas auxiliares de costuras minha amiga, conhecia as dificuldades,
me falou do marido dela que estava desempregado, poderia ajudar nas reformas e tomar conta da obra, não pensei duas vezes chamei o Claudio e dei-lhe a missão, assim eu ficaria mais tranquila... E foi assim, vínhamos de ônibus trazendo latas de tintas pequenas para não pesar tanto, e todo material que era possível comprar, como as compras eram pequenas por causa da grana sempre curta as lojas não faziam entregas.
Isso durou um longo tempo, nos finais de semana Kenia e Kelly vinham comigo para ver o serviço e ajudar na limpeza, às vezes até dormíamos aqui na Selma que já morava ao lado, logo fizeram amizade com os jovens do lugar e já não reclamavam da distancia.
Kenia, já fazia faculdade de serviço social que era o que sempre gostou, Kelly fazia educação física, também o que gostava. Para ajudar a pagar faculdade, elas vendiam bijuterias, e trabalhavam, era uma vida  apertada, nunca exigiram mais do que eu pudesse dar, sou muito feliz com meus filhos, souberam compreender todas as situações sem cobranças. Talvez tenha sido isso que me deu tanta força para superar, e querer fazer mais ainda.
Selma deixava Paula todos os dias lá em casa para ir trabalhar, a menina cada dia mais esperta e começando a balbuciar algumas palavras, eu sentia vontade que a mãe estivesse por perto para presenciar seu desenvolvimento, como é lindo esse momento! Em cada dia, surgia palavra nova, Selma estava perdendo tudo que acontecia, os primeiros passos, as primeiras birras, só a gente aproveitava aquela riqueza do desabrochar de uma criança.

Um dia falei pra ela, que deveria tentar fazer roupas para crianças, já teria as filhas de minhas freguesas para começar, eu ensinaria pra ela como fazer, pois ficaríamos juntas e juntas cuidaríamos da Paulinha, sugeri que começasse como eu, fazendo para a filha. Ela argumentou que não levava jeito, nunca tinha costurado nada.
Mas ela acatou minha ideia... Fez primeiro um vestidinho azul marinho de bolinhas brancas, para Paulinha, foi um grande sucesso, logo já pegou encomendas, compramos uma maquina de segunda mão seminova, ai sim, estava equipada podia seguir sem medo, eu estava ali para dar suporte, e foi assim...
Em pouco tempo, ela deslanchou, parou de trabalhar fora e pode curtir a filha. Então, o tempo ia passando... Selma grávida de novo, mas não como em minha época, não sentia enjoos nem tinha aquela coisa de cuspir a todo momento... Não sei por que agente sofria tanto! Agora tudo diferente, nem tinha sofrimento com partos naturais! Podia ter quantos filhos quisesse a minha mãe nesse tempo, faria festas, imagina, seria um atrás do outro.

Nasceu Ricardo, foi maravilhoso, agora tinha um casal, e estava livre, não tinha que assinar ponto, só isso era muito bom. Tomou gosto pela nova profissão, ela sempre foi muito inteligente para resolver qualquer situação. Vestidos de festa é com ela mesmo, fez alta costura, e desenvolveu um modo próprio, não demorou a passar para roupas de adultos até roupas para homens, que eu nunca gostei de fazer, ela me superou em muito... Aquele dom estava escondido dentro dela, só faltava alguém cutucar.
Assim, criou os filhos juntos, pode dar atenção e carinho. Sandra, depois que Ricardo já estava começando a andar, ficou também grávida, morava em Uberlândia, tinha seu consultório, e sua vida controlada, participava de congressos, e desenvolvia seu trabalho, fez concurso para o SESI, como dentista e prestava serviços lá e no consultório.
Em janeiro, nasceu Gustavo, lindo garoto, bem branquinho com olhos pretos, era o bebê do momento, a mãe sempre muito dedicada, muitas visitas e presentes, os familiares de Juiz de Fora vieram todos, ele era o segundo neto do lado paterno e o terceiro do nosso lado.

Com minha vida sempre corrida, não pude paparicar os netos como gostaria, eram muitos compromissos... Contava com meu trabalho para a sobrevivência, não podia interromper, eram muitas despesas.

Sandra sempre precisou contratar babá para cuidar de seus filhos, devo isso para ela nunca pude ajuda-la a cuidar, mas creio que soube entender. Gostaria que ela não guardasse mágoas...

Do garimpo, não tínhamos noticias, o pai só mandou uma carta com cinquenta cruzeiros para as meninas, para mim nada... Dizia que estavam muito bem, e que 
não sabia quando voltaria.

Eu já acostumada a me virar sozinha, estava terminando a reforma da casa, para nós seria uma mansão, olhava e admirava... Para quem não tem nada, o pouco é muito... Agradecia a Deus por aquela morada, não importava onde. Nossos moveis, estavam uns cacos, tudo tinha que ser trocado, era um caso a pensar...
Abriu aqui em Uberlândia, uma loja de moveis de vime, as coisas eram bem em conta e podiam parcelar, pensei é aqui mesmo, vou comprar a mobília da sala, disseram-me que não eram muito duráveis, perguntei se duravam pelo menos cinco anos, disseram que sim, essa era a garantia, fiz a compra e fiquei muito feliz. Depois de cinco anos... Seria outra história.


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