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sexta-feira, 6 de julho de 2012

O garimpo


 




 
A reforma da nossa casa nova já havia começado, durante a semana Soares ficava olhando o serviço, e no domingo eu vinha ver o que tinham feito, pagava os pedreiros por dia, era mais fácil pra mim, se o serviço não agradasse parava ali. O que estava acontecendo, é que aparecia pouco o que faziam.

Um dia, achei por bem, ir até lá, ver de perto o que acontecia! Olha a minha decepção, tinham montes de materiais secos desperdiçados, estavam ajuntando para serem jogados fora. Ele fez amizade com os pedreiros e ficava o tempo todo contando piadas e os casos que sabia muitos, fazia café e fumavam era uma semana alegre.
As paredes todas tortas, fora do prumo, chamei outro pedreiro, olhou e me disse, "precisa desmanchar, não posso continuar, a massa também tá quebrando, tem que jogar no chão e começar de novo." Juntou isso a que eu estava ainda em tratamento da depressão, senti vontade de morrer, o esforço todo perdido... Comprar tudo de novo!
Me falaram que se eu fizesse crochê, que ajudava a melhorar... Pensei mais essa... Selma sabia fazer muito bem, comprei linhas e agulhas, aos domingos vinha cedo ver o serviço e trazia o crochê, fazia muito, rendia, era linha grossa, quando chegava em casa contente mostrando meu trabalho para a Selma ela olhava e dizia "mãe tudo errado desmancha." eu brigava, reclamava, porque agora posso brigar o doutor falou.

Selma, agora estava grávida, trabalhando ainda na televisão, bastante gorda, pés inchados, mas trabalhou até nos dias próximos ao parto. Marcaram a cesariana para oito de março, naquela época seria surpresa o sexo do bebê, pela manhã, os amigos e parentes não trabalharam, foram para o hospital, na porta do centro cirúrgico, acredito que não tinha menos de quarenta pessoas, nasceu Paula... Nasceu o remédio da minha depressão.

Saiu do hospital ficou em nossa casa até passar a quarentena, depois vinha dormir na casa dela, pela manhã descia com o Luiz, e só voltava à noite.  Todos cuidavam da Paula, menos Kelly, que sentia muito ciúmes, ela era caçula, pensou na certa que o lugar dela seria trocado, nem gostava de olhar para Paula a chamava de fulana de tal... Mas ela não aguentou muito tempo, um dia vi Kelly pegando uma chuquinha cheia de chá e dando pra menina que sugou tudo sem engasgar, dai por diante acabou o ciúme e passou a tomar posse da menina, até hoje paparica, para nós Paula não cresceu, como nossos filhos nunca crescem.

Meus pais e irmãos, foi ficando cada vez mais difícil de se encontrar, cada um tinha sua vida, seus problemas, suas famílias, papai e mamãe às vezes vinham nos visitar, voltavam preocupados conosco, mas não podiam fazer grandes coisas.

Sim volto agora a falar do Peter no Pará, durante esse tempo todo estava lá, eu não tinha noção do que podia estar fazendo. Sem esperar, ele ligou dizendo que estava vindo e que tudo andava bem, e que estava no garimpo, estava vindo só para passear, não sabia o que dizer, fiquei muito contente, pois desde aquele dia... Nunca mais tinha estado com ele era muita saudade. Hoje, não me arrependo de ter tomado essa decisão, ele aprendeu a se virar e não ficar na espera, pegou equilíbrio... O homem tem que se arriscar, faz parte de seu crescimento.

Chegando, notei que ele estava muito feliz, trazia um pouco de ouro em pó
que tinha garimpado, e que lá no Pará era só chegar e marcar território, arranjar pessoas para trabalhar, e morar em tendas no mato. Contando isso, o pai ficou empolgado... Já conhecia o jeito de garimpar, dizia que quando jovem tirava ouro nos rios de sua terra, prontificou-se em voltar com o Peter, como sonhador, imaginou, "vamos voltar ricos." Parecia que tudo estava resolvido na vida.
Peter namorava Jussara, desde adolescente, tinham uma atração. Eu achava os dois muito sem amadurecimento para assumir uma vida a dois, eram jovens e não tinham nem emprego, era muito cedo... Mas eles sempre persistiram não se importavam com o que pudesse acontecer.

Passados alguns dias, Peter e o pai fizeram as malas e partiram para o garimpo. Só Deus para tomar conta pensei, a nossa reforma parou, eu não tinha dinheiro e nem quem pudesse vir tomar conta do serviço. O material que tinha comprado no começo, a metade tinha sido desperdiçado, agora se quisesse tinha que começar de novo!


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