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sexta-feira, 6 de julho de 2012

O sonho da casa




Como sempre depois de muitas coisas ruins vem uma boa, naquele ano Sandra passa no vestibular para odontologia, a faculdade era particular, fizemos o credito educativo, só assim ela poderia fazer o curso, pois não tínhamos condição para mantê-la; já no começo teria que comprar todo o material, ficava muito caro... Compramos e dividimos em parcelas com as duplicatas no banco do Brasil. Foi muito difícil para pagar tudo isso, não tinha onde recorrer meu pai não era mais o mesmo depois do maldito tiro. Meus irmãos trabalhando e estudando, cada um tinha que se manter, não podia contar com ajuda, nunca fomos de nos queixar e tirar proveito das pessoas ou parentes.
Um dia em BH conversando com Armando, ele me perguntou como andavam as coisas. Contei que ainda faltavam alguns materiais para completar o instrumental da Sandra, então ele se prontificou a pagar e me deu o dinheiro, fiquei muito emocionada, sabia que ele ganhava pouco, apesar dele nunca dizer quanto ganhava isso creio é uma virtude, as pessoas não devem contar mesmo, acho que é o correto.
Depois de tudo organizado, aulas começadas, a faculdade foi federalizada, já não era necessário comprar o material, a escola forneceria aos alunos, foi uma surpresa muito boa, mas tive que pagar tudo, depois a escola comprou.
Selma estudava a noite, conseguiu um trabalho na televisão, fazia relações publicas, era bastante eficiente no que fazia, tinha um namorado já há algum tempo todos gostavam muito dele rapaz educado, amigo. O Sebastião estava tentando arranjar um trabalho de vendedor em alguma empresa às vezes precisava ir para São Paulo fazer estagio, eu pagaria suas despesas, pois ele estava desempregado dependendo de mim até mesmo para os cigarros.
Depois de ficar por um tempo em treinamento descobria que não era aquilo que queria... Volta estaca zero... As despesas que fiz foram inúteis, era o momento de correr atrás de outras coisas.

Sandra, também tinha um namorado, colega de escola e mais tarde de faculdade, eram felizes e faziam planos. Uma manhã ele passou em casa para pegá-la, iam de lambreta, estava começando uma chuva, eles tinham pressa, estavam atrasados com horário, ele a pediu que se agasalhasse bem, colocasse um capuz por causa da chuva e duas blusas, parecia que adivinhava o que ia acontecer. Saíram rápido... Não demorou recebi um telefonema havia acontecido um acidente, um carro atravessou a rua sem parar, eles subiam a avenida na preferencial, foi uma grande tragédia... Ele teve traumatismo craniano, ficou em coma por alguns meses, tentaram de tudo, mas ele nos deixou.

Sandra se feriu também, mas não tão grave, ficou muito triste e abalada pela perda, o castelo que tinha construído em sonhos. Desmoronou. Deu continuidade no seu curso sem muito entusiasmo, também pudera! Não quero entrar em detalhes, não gosto de escrever tragédias, sei que é certo relatar tudo que passamos durante a vida. Mas certas coisas são muito desagradáveis, nos trazem péssimas recordações.·.
Continuando... Selma, fica noiva do Luiz Carlos, já namoravam à quatro anos, ele trabalhava em laboratório de analises clínicas, ela na televisão, e preste a terminar o e curso de química que escolheu, era a vaidade em pessoa, se vestia bem e sempre muita arrumada o trabalho exigia. Trabalhava no carro emprestado do noivo, não tinha habilitação, também naquele tempo ela não era cobrada. Conseguiu com o delegado uma autorização para fazer viagens, ia sempre a Brasília a trabalho e precisava estar documentada.
Não demorou muito, comprou seu próprio carro, um Fiat 147. Ai sim, ninguém segurava mais. As coisas iam seguindo seu caminho... Com muita luta muito trabalho e preocupação.

Por muito tempo pagamos aluguel, eu desejava ter uma casa, mas na altura dos acontecimentos seria impossível, até a comunicação com nossas famílias tornou-se mais demorada, mais difícil, eu trabalhava vinte horas seguidas, mesmo assim eram muitas as despesas, tinha auxiliares nas costuras, o salário tinha que ser pago em dia.
Soares agora tinha um trabalho não muito bom, mas, estava fazendo alguma coisa, e não ficava em casa implicando com as crianças. Pelo menos assinaram a carteira dele e recolhia o INPS.

Minhas amigas, e as pessoas que conhecia, estavam me dizendo que o governo estava financiando casa para quem não tinha que era muito fácil, só pegar um papel no BNH e preencher, dai alguns dias receberia a resposta, fiquei animada, falei com o marido, ele me deu a maior bronca. Me disse que coisa de governo não era confiável, foi meu sonho para o rio abaixo... Um dia saindo com Selma, de carro porque agora ela já tinha o carro dela, me levou para ver um conjunto residencial que estava sendo feito, já tinham terminado um predinho e decorado para amostra.
Ficamos entusiasmadas, ela estava prestes a se casar... Disse que as prestações devem ser pequenas, dava pra pagar... Pegamos os papeis e levamos para o pai preencher... Ele podia, tinha carteira assinada! Eu me comprometi a pagar as prestações, dois vestidos que fizesse daria... Ele só teria que arrumar os papeis... Com a graça de Deus ele aceitou, mesmo pondo muito defeitos, eu também sentia que não era o melhor, mas era o que eu podia fazer compromisso.
Enquanto esperávamos o desenrolar da compra, Selma casou-se, vieram os parentes e a família de Curvelo para a cerimônia, não podíamos fazer festa, mas nossa família, é muito amorosa nestas horas, se ajuntaram e fizeram a festa. Compraram tudo alem do necessário, foi muita alegria... Muita gente... E muito bom.·.Passado toda aquela preocupação do casamento, até já tinha me esquecido dos papeis das casas, Selma foi morar em um apartamento alugado, na Avenida Araguari, às vezes inventava de cozinhar, não sabia, ou melhor, nunca quis aprender, um dia inventou de fazer sardinha, abriu a lata e lavou, só sobraram os ossos, o Luiz fritava linguiças e ovos isso ele aprendeu no quartel.

O meu trabalho tornou-se conhecido, vinham pessoas de longe me trazendo roupas de festas para fazer, eu amava o que sabia fazer, era com muito prazer que fazia os modelos mais difíceis.

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