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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os cabelos brancos do meu pai


 BELO HORIZONTE JULHO DE 2012

Essa missão final sei que será a ultima que terei neste mundo. Os dias passados em recordações haviam drenado a minha vida que ainda pulsa no corpo sem viço. Os ossos velhos estão sobrecarregados pela existência, pesar e cansaço daqueles que sobrevivem ás pessoas amadas. As provações a que Deus me submetera tem sido muitas e rigorosas.
Resta-me nesse momento o esperar dos acontecimentos... Nem aquela vaidade feminina que faz parte de nossas vidas está sendo importante... Quando me olho no espelho, vejo cada dia novas rugas, novos sinais em todo meu corpo, falta-me brilhos nos olhos e a capacidade de agir no trabalho, até mesmo naquilo que pratiquei a vida inteira, dizem que velho tem experiência... Acabei de notar que isso é uma mentira é modo de fazer com que ele se sinta alegre e util.
Sei que estou sendo pessimista a vida nos leva a isto, nestes dias aqui vendo meu pai, não tenho como ser diferente, fico angustiada. Só me importa agora ficar mais com ele, um dever de gratidão e de filha, embora não seja possível fazer grandes coisas.
Ele na beira dos 100 anos está frágil, decadente... Parece cansado de tudo... O corpo não responde suas necessidades, o olhar distante parece implorar uma resposta... Fico com o coração apertado e a mente confusa em busca de alguma solução. Penso... ”O que poderá ser feito? Quais as perspectivas?” Ontem levamos ao neurologista pelo motivo de estar dando umas convulsões, não todos os dias, de vez em quando, o médico pediu alguns exames e uma tomografia onde constatou que ele havia tido um AVC há mais tempo, tem no cérebro uma lesão, ele não diz se sente dores não reclama... Será que vale a pena revira-lo com exames dolorosos em busca de tratamentos também incômodos? Observando o meu pai, agora alheio a tudo... Indiferente... Triste cabeça entre as mãos, pensando não sei o que... Como deixar o barco navegar sem nenhuma direção? Peço a Deus discernimento, para que possamos agir corretamente nesta situação.
Acho que vou parar de reclamar e aceitar a vida como deve ser, para que fique mais tolerável. Vou vasculhar minha mente e ver o que ainda tenho de divertido, ainda guardo alguns causos engraçados que reservei para depois, na falta de coragem de conta-los.
Relembrando com minhas irmãs, me disseram que escrevesse isso, não podia deixar foi acontecido comigo. Então esperarei o momento oportuno, e voltarei com as histórias...
Enquanto isso não acontece, tive uma ideia... Comecei a ler minhas histórias para ele, apesar de não estar enxergando quase nada, ele ouve... Recorda as passagens... Nestes momentos, posso ver em sua face um sorriso, e como é gratificante! Jamais pensei nesta hora... Fazer meu pai voltar ao passado... Minha ideia foi uma bênção, recordar desde o começo de nossas vidas, até mesmo os momentos tristes... Sinto que ele fica atento, parece que vive de novo os acontecimentos... Leio os casos mais engraçados, arrancos boas risadas... Os casos deprimentes deixo passar não vale a pena fazer sofrer.
As cenas das leituras parecem teatrais... Eu assentada em uma poltrona, ele em outra eu leio, ele escuta de cabeça baixa, às vezes entre as mãos cabisbaixo pensativo... De repente conforme o assunto levanta a cabeça esboça um sorriso e diz, “é... é...” “Eu sei...” Pergunto “to certa?” Ele diz, “é... Foi assim”, é muito gratificante vê-lo sorrir dos meus causos.
Lembro-me de quando comecei a pensar em escrever, jamais passou pela minha cabeça essa cena que vejo agora... Sinto vira-lo pelo avesso, com tamanha euforia.
Hoje, quando terminei de ler a história do Ford 29, lembrei-me do dia que ele tinha ido a Curvelo de ônibus, e lá ganhou uma garrafa de pinga, colocou em uma sacola, pegou o ônibus para casa, perto do Mineirinho desce sem olhar se podia, vinha um carro em velocidade e o atropelou, jogando a muitos metros... Fraturou as duas pernas, a clavícula, um corte na cabeça, no cotovelo, estava muito machucado, a mulher que dirigia deu socorro, ele era conhecido, morava ali perto, acostumado a dar voltas no Mineirão, andar na orla da lagoa, todos conheciam o velhinho risonho de cabeça branquinha... Mas o mais interessante, é que com toda essa tragédia ele não soltou a sacola com a garrafa de pinga.
A Pinga não foi quebrada, as pernas foram engessadas, os cortes costurados, curativos por todos os lados e ele feliz... Não deixou o gesso ficar o tempo que era preciso, dois meses, a vaidade é muita, tirou ele mesmo com uns três dias.
Assim era meu pai, valente e vaidoso, mesmo doente faz barba diariamente ele mesmo, para não sair de qualquer jeito. A camisa é dentro da calça cinto abotoado meia e sapato, não gosta de usar chinelos, ficar de pijama em casa jamais! Cabelo impecável... Branco como algodão.
A idade não apaga nele a vaidade e a educação, mesmo sem equilibrar nas pernas tenta se levantar pra ceder o lugar para quem estiver chegando, e pede para servir café ou jantar dependendo do horário.
Quando o vejo participar dos meus causos me vem uma grande esperança e agradeço a Deus por esses momentos de que faço parte.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Momento inesquecível




O passado não se apaga, assume outras roupagens... Trazer o passado para o presente às vezes nos deixa temerosos, por fazer entender ao nosso  modo aquilo que  vivemos, ou o que ficamos sabendo por comentários, nem sempre estamos presentes  em tudo que acontece, mas isso não nos impede de contar o que ouvimos.

Ha pouco tempo meu irmão Armando, achou por  bem convidar alguns parentes do lado de nossa mãe, aqueles primos que brincaram juntos, partilharam a mesma juventude, muitas coisas teriam para recordar... Marcaram o encontro em sua fazenda próximo a BH.
Dia marcado, agora  seriam os preparativos, ele estava preocupado sem imaginar quantas pessoas viriam, calculou por alto umas cinquenta, comprou uns cem quilos de carne para churrasco, contratou churrasqueiro... Qual sua surpresa quando começaram a chegar, ônibus de Três Marias  lotado de pessoas, ônibus de Curvelo também lotado, todos tiravam instrumentos de musicas, bandas e violas, se apresentavam, famílias inteiras estavam ali, que beleza! Pessoas que ha anos não se viam, vieram também de diversos lugares, a casa ficou repleta, ele ficou um pouco preocupado pensando que precisaria comprar mais comidas, mas não era necessário, todos traziam, colchões, e barracas, eu fui à única que não estava presente.
Foi uma festa maravilhosa... Dançaram toda a noite, contaram causos, recordaram brincadeiras da juventude... Cantaram, e pela manhã celebraram a Santa missa com um primo sacerdote que por coincidência estava passando férias no Brasil.

Nesta festa, minha irmã Lucia ficou conhecendo um primo  distante, ou melhor, já se conheciam de pequenos, com o tempo, e a distância não se lembravam, ali iniciou um namoro, porque não dizer uma paixão.

Logo pós a missa, cantada, chegou o momento dos discursos de agradecimentos, disseram-me que foi muita emoção, as pessoas não seguravam o pranto, as despedidas não tinha fim, abraçavam e abraçavam de novo, soluços e pedido de reprises... Está para acontecer a qualquer momento, o reencontro, desta vez não perco por nada...

A paixão da Lucia e do Theo continuou... Era só felicidade, parecia que um estava reservado para o outro, ficaram noivos, ele já tinha se divorciado da primeira esposa antes de conhecer Lucia, então não haveria empecilho. Foi um tempo de muitas idas e vindas, ele em Goiânia e ela em BH, viveram esse romance com muito amor... Só se falava nisso, as solteiras ficaram ouriçadas querendo colocar o nome nos babados do vestido da noiva, foi feito uma grande lista de nomes de solteiras... Colaram com fita crepe, e aquilo ficou ali arranhando as pernas da noiva, a felicidade era tanta que nada importava.·.
Começaram os preparativos para o casamento, era muito trabalho, mudanças para Goiânia, compra de apartamento lá, porque é onde ele trabalha, ela apesar da agitação do momento estava tranquila pois já aposentada, não precisava se preocupar com trabalho.

O casamento foi em Curvelo, terra natal dos dois, uma bela festa, Theo, mandou vir de Goiânia o conjunto que tocou por toda a noite, as famílias se reuniram, e podemos novamente encontrar os amigos e parentes. Os noivos estavam radiantes nem precisa  dizer, no dia seguinte viajaram em lua de mel, voltamos para nossas casas felizes por participar desta união.

Como sempre  que passa uma coisa tem outra já a caminho, agora todos sabem que a próxima será os CEM ANOS de papai, o tempo não espera... Os preparativos estão
prestes a começarem. Chegou a hora de fazer listas de nomes novamente, agora não se poderá esquecer ninguém, a família terá que se reunir... Também não é todo dia que alguém faz cem anos.
Como tudo na vida tem o começo meio e fim, Eu estou chegando ao fim com minhas histórias, já não me faltam muito para contar... Apenas complementar algumas partes que me passaram despercebidas, sei que ainda vou me lembrar de muitas coisas que não poderia ter deixado para trás, sei também que serei criticada... E cobrada por tudo que escrevi ou deixei de escrever, em breve estarei encerrando, pedindo desculpas da liberdade que tomei em descrever coisas que talvez não deveriam ser relatadas... Peço também desculpas pelo meu jeito de expressar, nem sempre fui clara, mas nunca havia pensado que um dia escreveria um livro.
Quero que fique como uma lembrança... Como uma caminhada de 77 anos de altos e baixos mais baixos que altos e que passou... Como uma brisa, às vezes mansa às vezes como um tornado, mas que passou também.

Espero que alguns de meus netos ou bisnetos folheando as paginam, possam perceber o valor da família... Apenas isso, será para mim o suficiente... Apenas isso me realisa... Como comecei termino, AMO TODOS.

Agradeço a Deus por estar presente em minha vida, minha família que me incentivou, meus amigos dos blogs que com carinho pediram-me que não desanimasse e seguisse com coragem, a minha amiga de muitos anos Ione Vieira que me prestou um grande trabalho, sem ela eu não seria capaz de realizá-lo, Ao Vilmar Barros de Oliveira, que me socorreu sempre que tinha alguma dúvida, em fim meu irmão Armando que me mandou os causos que tinha guardado para serem  lembrados  futuramente. Ao Soares onde ele estiver quero que saiba, que ele não me deixou bens materiais, mas, me deixou um tesouro maior que o mundo, meus filhos... É tudo que tenho de mais precioso, obrigado por tudo, pela paciência, compreensão, e carinho.


Coragem você é capaz!




Agora já se passaram dois anos, o tempo se incumbiu de arrumar as coisas, fiquei só, cada filho tem suas próprias  preocupações, cada um segue seu caminho como pode... Depois de cinquenta e seis anos de luta, muitas vezes nos  meus  limites... Mas passou como tudo na vida passa... Vivo neste restante de tempo a vida que é só minha...
Posso agora sem preocupações, curtir minha família, Deus me concedeu mais esses momentos, não pelo meu merecimento, mas pela Sua misericórdia. Tenho uma família invejável... Somos ainda dez  irmãos nos amamos muito, e quando nos encontramos é sempre motivo de festa, é de costume nos encontrarmos nos aniversários, principalmente o do papai, esse sim ninguém deve faltar, ainda mais agora que ele está com idade avançada.
Aproveito para ficar mais que posso junto com ele, e dos irmãos, se eu pudesse voltar no tempo seria maravilhoso! Sempre que me convidam para viajarmos juntas, as irmãs, eu não penso duas vezes, logo me prontifico e me ponho a caminho, nossos passeios são encantadores, temos o que recordarmos juntas, e nunca faltam  assuntos nos divertimos muito às vezes voltamos a ser crianças, fizemos tudo que sentimos vontade, com muita alegria. Naqueles dias que estamos juntas não existem problemas... O que tiver fica em casa... Escolhem sempre lugares lindos, hotéis confortáveis com muito lazer, me sinto como rainha.
Aproveito também para estar com os netos que já não tem tempo para estar com vó, alguns já formados trabalhando em cargos de responsabilidades, com tempo curto, outros estudando com afinco, impossível sobrar hora para a vó, os sobrinhos que são diversos também tem seus compromissos. Tinha doze  netos Deus quis uma de presente... Deixou um rastro de saudades... A Talita, jamais será esquecida!... Tenho também duas bisnetas Maria Fernanda filha de Gustavo e Luciana, e Ester filha da bruna e Renato.
As crianças hoje não sobram para avós, vão para escola muito cedo e quando chegam tem mil afazeres.  Entendo tudo isso, curto de longe me alegrando com cada sucesso... E, entristecendo com cada derrota... Graças a Deus tem mais sucesso que derrotas... A vida é cheia de surpresas, precisamos ter jogo de cintura para viver bem com todos, não podemos levar tudo a sério, não devemos nos magoar por pequenas coisas, família é isso, aceitar o outro como ele é não como queremos que ele seja...
Vamos vivendo e observando a vida, quando somos jovens essas coisas passam  despercebidas, pensamos muito em tudo, e a ansiedade de conseguir algo não nos deixa refletir... Alguns anos atrás, eu pensei, nunca vou conseguir viver sem estar agitada com tantas  coisas, essa era minha rotina, pensar, preocupar, agir  com mil obrigações e atitudes para serem tomadas rápidas, agora vejo que minha hora de parar chegou... Estou me sentindo frágil sim, é meu momento de deserto... Penso devagar também, o cérebro cansou? Parece que sim está mais lento, o andar mais devagar? Isso mesmo as pernas já não respondem meu querer.
Estou triste? Não, muito feliz, me sentindo com missão comprida bem ou mal, porém  realizada... Ainda consigo escrever  do meu jeito, sem  interferência de pessoas tenho incentivo de amigos que nem conheço pessoalmente, me escrevem dizendo "CORAGEM VOCE É CAPAZ!"
 Isso não é maravilhoso? Precisa de mais? Estou quase terminando meu livro, veja só, nem havia pensado nisto? Sei que muitos vão se interessar em ler, outros nem tanto, não importa... Faço minha parte. 

Vejam minha felicidade, posso ficar em casa de irmãos ou filhos amigos e parentes, tenho toda liberdade do mundo, fico quanto tempo quiser, sou recebida com carinho e cara boa, tenho do bom e do melhor, devo reclamar de alguma coisa? Jamais... Somente agradeço a Deus por tudo que tenho. Poderia contar toda a trajetória de cada irmão... Mais seria por ouvir dizer, como já expliquei, depois de algum tempo que tinha me casado, fui para fora de minha cidade e para outros lugares distantes, sendo assim acho impossível escrever com realidade a vida de cada um, conto algumas passagens que me relataram, mas poderia contar muito mais... Quem sonha reescreve seus textos e reinventa sua história...



A pneumonia




Novamente  em casa, depois de todo esse tempo fora, fiquei sabendo que o pai da garota que bateu meu carro tinha pagado, tenho dúvidas mas acho que nesse tempo em que mudou a moeda, terminamos por ter prejuizo, porque o cara disse, “vou dar só três mil,” é o que posso então o carro não valia isso. Kelly pegou e aplicou, os juros rodavam em torno de dezesseis por cento, logo ajuntamos mais um pouco e compramos um Monza de quatro portas, vidros  elétricos lindo... Ficamos felizes com pequenas coisas...

Agora, Kelly estava  namorando sério, trabalhava no Praia Clube e dava aulas em sua escola de natação. A tendência era ir morar em São Paulo, eu morando longe sem ninguém para me levar nos lugares, nem buscar-me no grupo de oração, então Sandra me deu um pacote de aulas de autoescola, e disse-me aprenda a dirigir e acaba  com o problema... Assim comecei, mas não levava jeito nunca tive interesse por volantes, mas fui tentando, um mês, dois, três. Depois parava uns três meses, começava de novo...
Tinha dia que estava ótima, noutros subia nos passeios, no fim de um ano consegui, agora sim, pensei sou independente... O carro não podia ficar sem seguro, batia demais...

Depois de algum tempo, Kelly aluga a escola, fica só com o Praia, depois fica  grávida e muda-se para São Paulo, Nasce Silvinho, cara do pai, parecia miniatura do Silvio Teixeira, o parto foi antecipado, quando cheguei já tinha nascido, todas as atenções estavam ali, naquela criaturinha frágil.
Cresceu rápido, esperto e forte, os pais cercaram de carinho, ele era muito bom, só chorava quando tinha fome, mas tudo cronometrado e anotado a mãe tinha sempre um papel e uma caneta por perto não descuidava um momento, as  mamadas tinham o tempo certo.

Silvinho, ainda não tinha dois anos nasceu Victor, bem branquinho, cabelinho louro esse era a mãe, a cara... Silvinho, o pai levava para visitar a mãe no hospital, não avisamos pra ele que o irmão tinha chegado para evitar ciúmes, foi ver no momento de ir pra casa, então ficou feliz... Mas não podia descuidar um minuto... Queria carrega-lo dar brinquedos, era um Deus nos acuda.

Como já escrevi, o meu  pai agora morava com Ângela, na casa dele estava José Carlos, que tinha vindo morar em BH, Lourdinha, também já tinha comprado seu apartamento, também Lucia, trabalhava na Mina do Morro Velho, e comprou para ela um apartamento no centro, eu demorava a ir lá para vê-los, também demoravam vir aqui, sempre muitas ocupações Minha irmã Tânia havia ficado viúva, Francisco, sofrera um aneurisma e teve morte instantânea, foi um grande susto para todos, era ainda moço cheio de saúde, alimentação saudável vida metódica não tinha o porquê aquele aneurisma, mas aconteceu, foi inevitável.
Tânia com os dois filhos adolescentes precisou enfrentar os negócios, foi pega de surpresa jamais ela teria pensado que isso pudesse acontecer, agora os filhos  já crescidos, formados, Fazem todo esforço para tocar a empresa, para eles o desconhecido... Pois são muito jovens e não estavam preparados para essa responsabilidade, é uma grande prova para eles, mas como dizem que o ouro é purificado com fogo no cadim, depois desta  ficarão prontos para a vida. O papai ficou morando com Ângela por um bom tempo, Depois Lurdinha levou para morar com ela no apartamento, pensei que ele não fosse gostar por se tratar de pouco espaço, mas não aconteceu o esperado... Ele gostou muito de ficar lá. Atualmente está com a Tânia a casa é grande tem bastante espaço e tem sempre alguém que cuida dele, ou melhor, alguém para fazer companhia e ajuda-lo a tomar banho e refeições na hora certa, ele não reclama de nada tudo pra ele está bom, é um amor de pessoa...
Lívia casou-se com André, Henrique namorando Lorena, menina bonita, formam um belo casal. A casa da Pampulha foi vendida, para Tânia, foi bom, minha mãe sentia  muito amor por aquela casa teve momentos felizes ali naquele lugar.
Com  o falecimento de minha mãe aos setenta anos achei que seria bom eu ir também aos setenta, dizia que não queria passar disto, para não ficar dando trabalho, tenho muito medo de precisar muito dos filhos, acho que ser mãe é doação total e não deve querer nada de volta, vejo que ninguém tem tempo para cuidar de ninguém. Cheguei mesmo a pedir a Deus isso... Quando estava para completar os setenta meu marido sofreu um AVC... E agora, como vai ser quem vai cuidar? Vou por nas costas de filhos? O fardo é meu, somente eu devo carrega-lo. Estava preparada, Deus me preparou no silêncio de seu amor... Eu seria capaz de leva-lo aos médicos.

Sandra tinha feito para nós um plano de saúde que cobria todas  despesas com  tratamento, preste  atenção nas coisas... Eu tinha um carro para leva-lo onde fosse preciso, e sabia dirigir para não ocupar as pessoas. Tudo isso podia fazer e cuidar dele com paciência, com dedicação, era dependente de quase tudo, andava com dificuldades arrastando uma perna falava, mas não podíamos entender, ficava nervoso por não conseguir se expressar claramente.
Às vezes caia, fraturava a bacia, ficava acamado com muitas dores, não tinha equilíbrio direito, caia não dava conta de se levantar. A alimentação tinha que ser controlada para não prender o intestino. Assim foram por uns cinco anos. Eu costurava e cuidava, até que um dia ficou com febre, dei antitérmico e não baixava, levamos ao hospital, constataram que estava com pneumonia, ele foi fumante até o dia do AVC, foram oitenta  anos de cigarros, não há vida que resista...
Hoje quando vejo um jovem com cigarros nos dedos tenho vontade de tomar e pedir que não se mate... Não tem pulmão que resista. Se os impostos não fossem tão altos as autoridades já teriam  dado jeito, mas quanto mais caro melhor... Ele foi hospitalizado e não voltou... Foram setenta e sete dias de sofrimento... Por fim sedado... Por fim o FIM.
  

Roma



Após dez dias de Israel, com todas as doçuras, fomos para Roma, na Itália tem muito que ver desde a visita ao Vaticano, encontro com o Papa, visitas aos túmulos dos Papas com celebrações no tumulo de São Pedro, missa na igreja de São Pedro, ida ao Coliseu, a igreja de São João de Latrão, onde guardam valiosas relíquias, Gruta de Moriá, cemitério de Calisto com seus segredos, e seus mistérios, dia para as compras, igreja de São João, onde foi decapitado... E outras visitas em Roma.
Fomos a São Francisco de Assis, com sua pociuncula, que foi destruída depois pelo  terremoto. Mosteiro de Santa clara, próximo a São Francisco, em Cássia casa de Santa Rita, mosteiros e jardins, a guia Maria Célia, uma brasileira, que conta todas as histórias dos lugares visitados, a bênção do Papa na Praça de São Pedro, Lanciano!... A! Lanciano, como você me conforta... Esta Hóstia Viva e o Sangue  que você Impõe com tanta realidade!... Apagam  todas as dúvidas... Você se sente pequeno diante daquela verdade...
Os dez dias de Itália, passaram como um relâmpago eram  muitas informações... Mas ainda está faltando outra viagem importante... Ir para Iugoslávia, seria de avião, se a guerra da Croácia com Sarajevo deixasse descer, então foi mais seguro ir no transatlântico que levava ajudas para os flagelados da guerra, era um bom navio que os USA haviam mandado, navegaria a noite e pela manhã portava em Ancona.
Seguiríamos de ônibus até Megigore, onde permanecíamos por quatro dias, foi uma boa viagem para mim que amava tudo, para minha Joana foi sofrimento, o mar a deixava muito mal, toda noite ela tossia e ficava sem ar.
Em Megigore, uma vasta peregrinação, a missa na igreja das aparições, começava igual Piedade dos Gerais com o terço, depois entrava em silêncio total tinha a mensagem, mas agente não ouvia, os jovens passava para o padre e ele publicava, e começava a missa. A mensagem era dada todos os dias às quinze horas, é um lugar de muita oração, e de muita paz, os guerrilheiros estavam próximos, os mísseis passavam sobre a cidade e não destruíam nada, subimos o monte das aparições as treze e trinta, hora da via sacra,
 com o sol muito quente, o padre Eslávico, com a cruz as costas ia parando nas estações·.
Fomos até Croácia no caminho houve uma sena interessante os soldados invadiram nosso ônibus com metralhadoras e falando coisas que não entendíamos a primeira reação foi pegar a bandeira Brasileira e levantá-la, imediatamente eles desceram e fizeram com os braços o gesto do Bebeto jogador de futebol aquele gesto de balançar crianças.
Lá um Santo Padre, Iôzo, na igreja, mostrou-nos onde havia um túnel que eles tinham feito para celebrar as missas escondidos, não era permitido, então os padres se reuniam dentro daquele túnel para rezar, um dia jogaram dinamites, e mataram todos, então só tamparam a boca do buraco e colocaram o nome de cada padre escrito na pedra.
Contou-nos também que cuidava dos mutilados, que tinham crianças e jovens, faltando pernas línguas olhos até pedaços de corpos, perguntamos como ele dava conta disso? Enfiou a mão no bolso e tirou o terço, e mostrou-nos e disse vocês não podem imaginar  a força que tem a oração do terço. Depois deste testemunho não fica dúvidas... AMEM
Quando voltamos à tarde, o guia disse não olham para a direita, para não impressionarem, não deixei de olhar e vi uma construção grande em chamas, tinha acabado de ser destruída.
No dia seguinte, a programação foi visita à casa da Visca uma das videntes e uma palestra com Maria outra vidente, depois da palestra que ela explicava tudo que estava acontecendo naquele lugar que o mundo inteiro estava indo visitar, tinha pessoas de várias nacionalidades, como tinha também confessionário em todos os idiomas espalhados na praça da igreja.

Saindo do recinto da palestra em uma praça em frente, alguém olhou para o céu, ela já tinha avisado que às vezes a Virgem Maria, dava sinal aos peregrinos, olhamos... Qual nossa surpresa, o céu estava azul somente uma nuvenzinha do tamanho de  uma fralda tremula, em seguida começamos a presenciar a, imagem, cada pessoa via de um jeito houve gente que até fotografou... Minha amiga viu colorida, eu não podia ser de outro jeito, teria que ser preto e branco formada por blocos de nuvens escuras... Está lembrado do sonho? Do meu sonho... Por isso ELA DISSE, O SONHO PODE SER USADO PARA NOS AVISAR ALGUMA COISA.
Voltamos no dia seguinte para Roma, no caminho ainda no ônibus lembrei-me do meu carro tinha ficado sem ele, refleti, pensei que não tinha sido por querer que a moça bateu não se faz isso por querer, rezei pelo pai dela que estava sem condição de pagar, mostrei minhas dificuldades, pedi que não queria sacrifício da família, e que fosse feito o melhor.

Fomos para o porto para a volta, eu me sentia tão realisada que nem queria dormir, era curtir aqueles últimos momentos, fui para proa do navio para ver o sol nascer, só isso bastava. De Roma, Portugal, e Brasil.

Em São Paulo primeira coisa, comer um sanduíche de pernil, acebolado, como é bom...! De São Paulo a Uberlândia, as duas vieram em silêncio total não sabíamos o motivo, parecia que estávamos recheadas...

Chegando a minha casa vou desmanchar as malas, minhas filhas disseram-me  nada disso, vai hoje ainda para BH, seus irmãos, Vivaldo e Marcio estão muito machucados pelo acidente que não te contamos... Eles estão no hospital, e todos estão muito apreensivos, esperando um triste desenrolar. Eu não sabia se chorava... Estava chegando do céu!... E agora, fiz outra mala e fui.

Deus teve clemência, demorou, mas ficaram bons, o Guilherme, filho do Marcio, que foi o escolhido, Deus o levou, não suportou a batida estava do lado da colisão. Depois de um tempo o Marcio ganhou outro filho o Gabriel. Não cobriu a falta mais amenizou... Deus é misericórdia.
O casamento do Marcio não deu certo, depois de algum tempo, Gabriel ainda pequeno o casal se separou, e a criança ficou com o pai, hoje já moço bonito e inteligente, motivo de alegria para o Marcio.


domingo, 8 de julho de 2012

Egito




Em Israel, visitamos todos os pontos turísticos, todos os lugares em que Jesus marcou presença, não ficou nada sem ser visitado, Desde confirmação do batismo no rio Jordão como travessia do lago Tiberíades em um barco com o padre Jonas Abib, tocando violão e cantando uma canção de sua autoria.
Carfanaum, com celebração no lugar das bem-aventuranças e multiplicações dos pães, Monte das oliveiras, meditando a Agonia, Monte Tabôt... Ai aconteceu uma coisa interessante, perto das três igrejas, assentados nas ruínas no topo do monte, o Frei Pascoal, perguntou por que estávamos ali? Cada um contasse sua história... Então, eu tinha muito pra dizer, todos que estavam ali, que eram médicos, psicólogos, empresários, gente com certo padrão de vida elevado, pessoas formadas, só havia uma costureira, EU, sei que fui pela graça... E por interseção de São José.
Contei toda minha história e muitos se emocionaram. Visitamos as grutas de Curam, visitamos Jericó, a parte velha do tempo de Jesus, e a atual parte nova, fotografamos o sicomoro, arvore igual a que Zaqueu subiu para ver Jesus, fomos a Nazaré terra de Maria, entramos lá na hora do Ângelo em oração, Santo Sepulcro, a Via Sacra, na Via Dolorosa... Tocamos na pedra da Ressurreição, Sala da Santa Ceia Igreja da Anunciação, Gruta de São José, e muitos outros lugares, ouvi confirmação do matrimonio em Canaã da Galiléia com direito aos vinhos, fomos a Cesárea de Felipe.
Monte das tentações olhar Jerusalém do alto parece um sonho... Inacreditável... Depois de percorrer tudo, que foi muito mais, além do que já escrevi, fomos atravessar o deserto em direção ao Egito. Nunca havia pensado no deserto! Foi à tarde, e parecia que não tinha fim, é muita areia... Só vendo para crer, no caminho houve a celebração da missa em uma igreja mulçumana, onde cederam para nossos padres celebrarem, passamos por um lugar de parada, no meio do deserto, tinha espécie de um teatro onde assentávamos em degraus e passavam filmes de lugares que não seria possível visitarmos, os costumes etc.
Na divisa da Palestina para o Egito, é muita fiscalização, querem saber tudo, o soldados são moças com armamentos pesados não se pode ficar em pé só assentados uma grande ficha para preencher abrem suas malas e reviram tudo, querem saber se leva alguma coisa para alguém, quanto tempo vão ficar.
Depois tem uma bela parada no mar Vermelho, é uma das maravilhas do mundo, nunca poderia imaginar que houvesse coisa tão linda, aquários no fundo do mar todo tipo de corais, e peixes, tartarugas imensas, lindas. Chegamos ao Egipto à noite, era tudo com pouca iluminação, antes de irmos para os chalés que era cada chalé pra duas pessoas, fomos para o restaurante para jantar, houve uma apresentação da dança do ventre, e outras, mas estávamos com medo.
Os beduínos são estranhos, também a gente não entendia o que falavam a Joana e eu fomos ficar em um chalé distante, de repente some todos, pegamos nossa chave e não achava o endereço é diferente daqui os números não são seguidos, um beduíno foi nos levar ao chalé, chegando lá ele não ia embora olhava nossa bolsa e dizia “dólar...” Isso ele sabia falar, na carteira ficavam poucos dólares o restante estava em uma bolsa de tecido presa em um elástico, amarrada na cintura era os dólares do Gilberto que pediu para eu dar na volta, olha minha situação...  Na hora que abri a bolsa para pegar o dólar o homem meteu a mão e tirou, fez a mesma coisa com a Joana, nesta hora tivemos muito medo entramos e escoramos a porta com um baú que estava lá.
As  duas e meia da manhã saia o ônibus que nos levaria ao monte Sinai, deveríamos começar a subir antes do sol aparecer, porque o calor é muito. Quando acordamos a turma já estavam se acomodando no veiculo, cada pessoa levava uma caixa com frutas e lanches, o Monte Sinai é gigantesco, não tem como explicar, tem que ver.
Começamos a subir por uma trilha, um guia beduíno puxando um camelo pra quem quisesse alugar pra subir ao monte, fila indiana, só o guia tinha lanterna, olhava para cima e não acreditava que você daria conta, parecia não ter fim... No meio do trajeto, um lugar pouco plano, onde parados ali um grupo de beduínos com seus camelos de alugueis, até mesmo para tirar retratos com eles teria que pagar, estava escuro ainda, aquele cheiro de bicho e povo esquisito.
Ali naquela parada, comemos alguma coisa pra continuar a subida, chegamos ao topo às seis horas, muito cansados, algumas pessoas caíram, tinha dificuldades com as pedras... Não tinha vegetação, para o povo fazer xixi, alguém tinha que ficar na  frente para nos esconder um pouco. No ultimo lugar que foi possível subir via-se o sol nascer em baixo, um verdadeiro espetáculo!... Padre Jonas Abib, fez ali naquele local uma celebração maravilhosa, agradecemos a Deus aquele momento único em nossas  vidas... A descida foi com muito calor, pois o sol forte deixava as pessoas mais vulneráveis... Era mais difícil descer as pedras rolavam, e os olhos podiam ver onde tínhamos  passado a noite, os precipícios... Tudo muito lindo e arriscado... Só tentando outra vez... A!!! Quem me dera! Em baixo do monte fica o mosteiro de Santa Catarina, podemos entrar e ver todas as coisas antigas, lá tinha os sanitários para turistas bem arrumados, tem também o poço de Moisés onde ele tirava águas para os camelos e para usar ainda era usado, ao lado em um canteiro suspenso, a sarça Ardente, da mesma qualidade que Moisés viu queimar, e não se consumiu.

Voltamos cansados mais muito felizes, passamos pelo mar Morto, entramos para o banho, agente flutua e não se afunda tamanho a quantidade de sal da água fica montes de sal flutuando... Minha amiga Joana passou muito mal, tem alergia, ao iodo, coitada sofreu... Estávamos sempre perto de mar.


O sonho




Agora, vou voltar naquele assunto do sonho! Alguém tá lembrado? Aquele que pedi para perguntar se sonho era verdade?

...Sim é isso mesmo... Minha vida estava a mil por hora... Muito trabalho de costuras, sem ajudantes, longe de lojas de aviamentos, longe de tudo até da cidade era mesmo o lugar que Judas perdeu as botas. Mas feliz!... Era o que eu podia ter, nunca pensei alto, acho que cada um recebe seu quinhão... Então continuando... Na minha comunidade só tinha missas aos domingos, agora não podia ir às dezoito horas na catedral, o máximo que fazia era ir ao grupo de orações as quintas feiras, depois das aulas Kelly me apanhava para vir embora.

Às vezes levava as roupas para as clientes dar provas, elas tinham dificuldades para encontrar meu endereço, mas tudo bem, não demorou  fizeram avenidas e facilitou o acesso ao nosso conjunto residencial.

Um domingo participava da missa, na saída deparei com uma moça que também participava, me dirigi a ela e perguntei se estava morando aqui, me respondeu que sim, era logo ali perto da minha casa. Na verdade, conhecemos as pessoas que comungam a mesma fé, as encontramos todas as vezes que participamos de um ato litúrgico, mas essa era a primeira vez que a via, saímos juntas como se já nos conhecêssemos, trocamos informações... Falou-me que os pais tinham comprado uma casa aqui, disse-me que estava morando em Recife a trabalho, tendo sido transferida para Uberlândia há poucos dias.
Uma pessoa agradável, amiga atenciosa e os encontros na igreja se repetiam.
Em um domingo, conversando, disse a ela que o meu maior desejo era ir a Terra Santa, mas tinha medo até de pensar, porque sabia que seria impossível, as condições financeiras eram precárias, nos mantinham com costuras e sempre era a conta, não sobrava para economizar... Para minha surpresa, ela respondeu-me, “é meu desejo também... Vamos começar a pesquisar, para ver como precisamos fazer?” “Se não der, pelo menos tentamos a senhora não acha?”

Naquela hora... Acendeu uma chama no meu coração... Ninguém nunca tinha me tocado assim com palavras tão convincentes! Fiquei a semana toda, pensando... Pensando... E pedindo a Deus, se fosse para dar certo que Ele tomasse conta. Naquela mesma semana, minha amiga, vou chama-la assim, foi a serviço do banco que ela trabalha em Uberaba, no horário do almoço foi na igreja de Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa, rezou, fez as orações e saiu, depois lembrou que não tinha rezado para São José, voltou até a imagem do santo, se ajoelhou e rezou...
Só que pregado na imagem tinha um cartão escrito, "viagens para Terra Santa com poupança programada" e o telefone; ela anotou na mão, chegou ao banco e ligou, responderam pra ela que iriam mandar o prospecto da viagem e uma novena de São José, ele era o padroeiro da viagem, podia ficar tranquila que ia dar certo. Não demorou, o correio entregou o prospecto com a novena, como todos os dias ela passava em minha porta, era seu caminho, me dava as noticias. Mas era muito caro o preço, pesava muito pra mim, e até pra ela também, mas a animação foi só aumentando, contei para o marido e os filhos, alertaram-nos que aqueles lugares do roteiro, estavam em guerra, seria muito perigoso!
Mas não pensávamos no pior, só no melhor... O meu genro Nei, rolava no chão e ria, dizia minha sogra agora pirou mesmo vamos precisar interna-la. Então, começamos a novena, antes de terminar a mesma, minha amiga recebe uma carta da colega de Recife, contando que tinha chegado da Terra Santa, que tinha ficado muito emocionada e que estavam montando outro grupo para final de outubro que ia voltar e levar a mãe, falou também que restava um lugar e tinha pensado nela.

Minha amiga respondeu que gostaria muito, agradeceu e disse que precisaria de dois lugares, não teria coragem de ir sem mim. Enquanto isso, tudo indicava que São José estava providenciando... Todo dinheiro que eu recebia trocava em dólares e escondia dentro de uma lata, com medo de ladrão entrar e levar costurava dia e noite não me cansava, o serviço saia tão rápido e perfeito que costurava uma manga, quando ia costurar a outra já estava pronta, tudo acontecia sem esperar.
Tem coisas que me aconteceram que nunca tive coragem de contar, as pessoas não acreditam e levam para o lado de gozações... Estávamos no mês de junho, fazia muito frio, perto da minha casa estava acampada uma família com muitas crianças, precisavam de cuidados, a mãe era cega e a barraca pequena, eu cuidava da minha casa das costuras fazia bolo, esquentava leite, corria lá, levava, pedia para os vizinhos pão, levava, pedia cobertas para as freguesas e agasalhos para as crianças.
Era um tempo corrido! Ainda conseguia tempo para rezar o terço com eles à tarde, e correr atrás de políticos para arranjar emprego para aquele senhor pai das crianças.
Na metade da segunda novena a colega de minha amiga liga pra ela e diz que havia uma desistência no grupo sendo assim teria um lugar pra mim, era preciso só depositar o valor de duzentos dólares para garantir. Passou o numero da conta em Recife, o nome da pessoa não era o coordenador da viagem ele não tinha conta em banco, falei com minha filha Selma, ela me deu o cheque para depositar, ficamos apreensivas, não conhecíamos as pessoas só minha amiga conhecia a colega Salomé, o tempo estava apertando, eu abria a bíblia e saia aquela passagem "pode comer e beber tranquilamente o perfume será derramado sobre sua cabeça." então eu chorava mostrava pra Selma, ela me tranquilizava e dizia você vai, ajunta seus dólares, quando faltar poucos dias, contamos, o que faltar vou ao banco e faço um empréstimo já conversei com o gerente.

Voltava pra minha casa, ia fazer novena, ia levar comida para a família, ia costurar... Pensei, na ultima hora se for preciso vendo o carro, é meu mesmo depois dou jeito de comprar outro quando chegar. Meu marido só dizia, "vai procurar sarna pra coçar... Com aquela guerra!... Você não vai voltar"... Eu respondia "Morro feliz". Minha amiga Joana, também corria atrás de dólares apesar dela ser bem remunerada, precisava completar, fazia panos de pratos e vendia no banco, eu fiz rifas de uma joia que havia comprado na Bahia, tudo era válido.
Olha dois mil e oitocentos dólares não era muito pra outras pessoas, mas pra mim era... Meu dinheiro era muito sofrido... Pedir ajuda só para caso de doença, passear para muitos é vaidade... É luxo... E logo pra quem? Essa costureira pode tratar de ficar quieta... Isso seria muito! Pode quietar o facho...

Faltava ainda um tempo para a data da viagem, pensei agora vou vender o carro já tinha pensado no comprador, porém à noite Kelly sai com a tia e uma amiga, na volta para casa, subindo uma avenida, não devia estar devagar, entrou outro carro avançando a preferencial e bateu no nosso, o fazendo capotar por duas vezes foi aquele Deus nos acuda, felizmente as nossas meninas não se machucaram, mas o carro foi para o ferro velho, perda total. Pela manhã Kelly chorava e dizia e agora mamãe, como você vai fazer... Acabei com seu carro. Eu não me desesperei, o pai da moça que estava ao volante prometeu que iria pagar o carro, mas tinha que esperar ele não tinha dinheiro neste momento, fazer o que? Tinha que passar a metade do dinheiro para as passagens, em outro numero de conta de outra pessoa que também não conheciamos às vezes mandava recados pelo telefone, começaram a suspeitar que fosse golpe... E as passagens? "vocês vão pegar em São Paulo, com as pessoas da canção Nova”, também não conhecia ninguém, chegamos a pensar é fria... Meu genro Geraldo, perguntou, ä senhora vai com quem?”Disse não sei”! Como chama a pessoa que vai levar o grupo? Não sei! O recibo do banco está no nome do coordenador? Não, de outra pessoa... Então vão pra São Paulo, sem passagens, sem nome de ninguém e vão embarcar as quinze e trinta para Terra Santa! A senhora acha que tá correto? Vou ficar em casa se der errado me liga vou buscar a senhora.
Então, isso foi em uma quinta feira treze de outubro, na quarta tinha sido o aniversário de meu pai, eu não fui porque tinha que viajar na quinta, mas todos os irmãos foram o Marcio que mora em Curvelo foi com esposa e um filho pequeno, voltavam para casa de carro com o filho dormindo nos braços, e outro irmão Vivaldo dirigindo,quando uma caminhonete dirigida por um bêbado veio e bateu no carro, acidente terrível meu sobrinho morreu e meus dois irmãos se machucaram muito, nem sei contar direito, só sei que não me contaram nada para não me preocupar.
Eu via as filhas com os olhos vermelhos disfarçando, dizendo que estavam tristes porque eu iria demorar etc. Esqueci o principal, faltando três dias para a viagem, juntaram meus filhos em volta de uma mesa, busquei a lata do dinheiro para contar e vê quanto faltava, advinha? Passava seiscentos dólares veja a felicidade!...

Viajamos naquela noite de quinta feira treze de outubro para São Paulo, chegamos pela manhã e fomos direto para Guarulhos, ainda estava muito cedo, fomos à capela do aeroporto, a missa começava, participamos, tínhamos todo tempo do mundo, só não tínhamos as passagens e a certeza de ir... Mais tarde assentadas no saguão, começou a chegar pessoas comentando sobre a ida a Terra Santa, o assunto nos interessava, pois esperávamos o pessoal da Canção Nova! Mas nada de ninguém nos procurar... Quase na hora do chek in, a Joana ouviu uma voz, e me disse essa voz eu já ouvi na rádio da Canção Nova! É do Eto, era um grupinho de diversas pessoas, então a Joana perguntou, “vocês são da Canção Nova?” “Sim, e vocês são Joana e d. Zélia?” “Estamos com os bilhetes de vocês,” e nos entregou, corri ao telefone, fiz uma ligação a cobrar para meu genro Geraldo avisando que estava tudo certo e que sentíamos muito felizes. Partimos para Recife, lá o grupo completou-se, éramos sessenta e quatro participantes, tinha pessoas de todas as partes do Brasil.
Esse pacote tinha duração de trinta dias, teríamos um curso bíblico na Terra Santa, quer coisa mais maravilhosa? Eu chorava de felicidade, jamais tinha imaginado que isso fosse acontecer ainda mais daquela maneira, o passeio era perfeito... Completo aos nossos desejos...

O restante dos dólares fui entregar para o coordenador Gilberto, agora já tinha sido nos apresentado, dava para confiar inteiramente, correto seguro, pessoa de confiança, ele não quis receber preferiu que entregasse na volta, então fiquei com a responsabilidade de carregar aquele dinheiro, ainda me disse, “pode pagar depois tem gente que deu cheques pré-datados, a senhora não se preocupe!” Pensei olha só, como estava ansiosa... São José é mesmo caprichoso... De Recife, fomos direto a Portugal, em Fátima, fiquei encantada com tudo que via e ouvia a procissão das velas no campanário, as missas celebradas em diversos idiomas, ficamos lá quatro dias, não tinham pressa, tudo muito organizado fomos à casa dos pastorzinhos a gruta das aparições.
De Portugal, para Tel-aviv, depois Jerusalém, ai começou a verdadeira caminhada, vivenciando cada momento dos acontecimentos na vida de Jesus, as passagens da bíblia vivida ali. Um Frei foi o nosso guia, ele morou no Brasil e falava nossa língua com perfeição, Com rádios de comunicação, ele ia aplicando o curso bíblico. Naqueles lugares, que podiam nem ser iguais por causa de tantas destruições, muitos subterrâneos, pelas mudanças de estruturas.

Era época de guerra, lá sempre estava em combate é assim o povo não tem nossa paz. Os tanques nas ruas são normais ninguém se assusta... Simplesmente entraram no ritmo da cidade, gritos e corre corre a toda hora, homens e moças armados até os dentes... E eu estava muito feliz... Um sonho sendo realisado... Ofegante... Coração apertado de prazer... Eram mil novecentos e noventa e quatro. LEMBROU AGORA? AQUELE SOL EM FORMA DE QUATRO? A história vai continuar... Verão mais adiante o desenrolar maravilhoso...